Huntdown – Análise (Nintendo Switch)

Um mundo controlado por grandes corporações, cuja violência parece ser o único meio de sobreviver. Eu não sei você, caro leitor, mas isso pode ser muito bem a premissa de um filme de ação ou da própria realidade, em que cada vez mais somos reféns de Big Techs, cujo lucro parece orbitar em nosso anseio pela violência e pelo ódio em suas plataformas.

Porém, o mundo fictício de Huntdown criado pela Easy Trigger Games e distribuído pela Coffee Stain Publishing (que tem em seu currículo nada menos que Goat Simulator) parece pegar tudo o que já vimos em filmes e séries de brucutus estadunidenses dos anos 1980 e 1990 sobre distopias futuristas regadas a violência e sarcasmo e nos dar o controle dos caçadores de recompensas, dispostos a tomar um completo banho de sangue em troca de dinheiro.

Será que Huntdown é digno de figurar ao lado de outros clássicos jogos de correr e atirar, como Metal Slug ou até mesmo Megaman? É o que veremos nessa análise!

 

É HORA DA CAÇADA

Huntdown possui uma premissa bem simples: uma das grandes corporações contrata um de três caçadores de recompensas (ou Bounty Hunters, para os mais puritanos) à sua escolha, que são Anna Conda, uma moça que não poupa tiros em uma boa caçada e a única 100% humana nesse seleto grupo; John Sawyer, um ciborgue cujo queixo é de dar inveja em qualquer pessoa que tenha passado por uma harmonização facial recente e que adora o cheiro de pólvora pela manhã; e Mow Man, um robô que não possui qualquer inteligência artificial capaz de lhe atribuir sentimentos, e que só quer cumprir as diretrizes de sua missão.

Cada um desses três personagens joga bastante parecidos entre si. Na minha campanha, eu zerei com Mow Man. E não que isso confira alguma vantagem ou habilidade única, mas o design dele me chamou bastante a atenção e resolvi ver qual é que é com o cara de lata.

 

Huntdown

O game tem belíssimos gráficos e traz uma vibe dos clássicos jogos de correr e atirar, como Metal Slug – Imagem: Reprodução

 

A grande diferença entre os personagens aqui, são em suas habilidades únicas que possuem um cool down (o famoso “usa e espera carregar”). Mow Man é capaz de arremessar um trio de kunais, enquanto Anna arremessa uma machadinha diretamente no centro da cabeça dos inimigos.

O jogo é bastante simples em jogabilidade: nós podemos correr, pular, abaixar, fazer cover em caixas, carros e paredes, chutar inimigos quando próximos, atirar, coletar armas e explosivos deixados por inimigos e esquivar utilizando os botões de ombro dos controles.

O jogo se divide em quatro grandes áreas, subdividas em 5 fases. Em cada uma delas enfrentamos um chefe, e na última fase da área, teremos o grande confronto contra o líder da gangue daquela região, que é algo bem interessante de ser comentado: cada uma dessas áreas possui um arquétipo bem distinto de gangue, como a dos motoqueiros, onde haverão inimigos que vão tentar impedir sua caçada usando motos e carros, além de possuírem uma estética bastante alinhada com a proposta, com muito couro preto; temos a gangue dos jogadores de hockey, que utilizam uniformes e equipamentos do esporte, além de serem inimigos mais rápidos e que costumam usar armas brancas, como tacos; há os samurais, que acho que é bem auto explicativo aqui e etc.

Durante as fases, enfrentamos todo tipo de gangue estereotipada, como nos filmes dos anos 1980 e 1990 – Imagem: Reprodução

Todas as fases possuem três checkpoints que, ao morrer, você retorna de uma espécie de ambulância high-tech que fará os devidos procedimentos e LITERALMENTE te chutará para fora para que você cumpra a sua missão. Elas também não se alongam, tornando o jogo uma experiência bastante enxuta. Numa primeira jogada, talvez leve um pouco mais de tempo para concluí-lo (algo que eu levei cerca de 6h para fazer, dados alguns trechos mais trabalhosos), mas caso você esteja em uma segunda ou terceira jogatina, esse tempo pode cair para algo de 1/3.

 

AÇÃO COM CAUTELA

Huntdown não é aquele tipo de jogo em que você pode simplesmente pode atirar em tudo e não terá dificuldades. Apesar de ele usar bastante como base Metal Slug (tanto o humor, quanto o gameplay), há inimigos que exigirão estratégia aqui, ou que virão em um grande volume para tentar impedir seu progresso.

As fases possuem alguns objetivos, caso você seja do tipo colecionista de jogador. Entre esses objetivos estão eliminar todos os inimigos da fase (há um contador de mortes junto da sua barra de vida), coletar todas as maletas escondidas pela fase, que podem estar em locais secretos ou com alguns inimigos que precisarão ser impedidos de fugir – caso contrário, terá que ser jogada a fase novamente -, e também o desafio mais difícil de todos: passar as fases sem morrer.

O jogador conta com um arsenal bem vasto para concluir sua caçada. Mas vá com cautela! – Imagem: Reprodução

Eu joguei o game na dificuldade “NORMAL” e mesmo assim, alguns trechos exigem bastante da sua habilidade, seja como atirador, seja cadenciando os momentos o tiroteio e a cobertura. Sobretudo se você estiver jogando em co-op, em que a cobertura do seu parceiro é vital para o progresso do jogo.

 

CYBERPUNK NA MEDIDA CERTA

Sobre a ambientação, penso que Huntdown não inova em absolutamente nada. Ele é um Cyberpunk na medida correta, com uma ambientação que remete a clássicos do cinema como Blade Runner, repletos de neons com cores berrantes, outdoors dos mais variados e uma superexposição à propaganda capitalista digna de uma grande metrópole.

A trilha sonora também usa e abusa de sintetizadores e conseguem expressar bem toda a ambientação da fase que está rolando. Por exemplo: se a fase possui algum elemento mais puxado para algo oriental, ela terá elementos orientais em sua trilha. Se for algo mais urbano, será aquela coisa sintetizada que exprime bem o obscuro, a sombra dos prédios com aquele toque de luz artificial (é difícil explicar isso em palavras, mas jogando talvez você entenda meu ponto).

Os inimigos também possuem uma boa variedade, mas mais ao final do jogo, acaba sendo um pouco menos criativo, já que muitos deles se repetem várias e várias vezes, tornando a progressão um tanto quanto mais previsível, já que nesse momento, certamente você já vai saber que tipo de arma é mais efetiva contra aquele tipo de inimigo.

 

OS PERCALÇOS DA CAÇADA

Apesar de muito divertido, Huntdown não é perfeito. E algumas das imperfeições dele são muito evidentes. Talvez a mais notável é que o game não possui tradução oficial para português, o que pode dificultar o entendimento do seu enredo, caso você se importe (não que isso faça lá uma grande diferença, já que os trechos com mais quantidade de história acontecem entre missões).

Sobre problemas na gameplay, talvez o que mais tenha assim… Me decepcionado é que algumas fases são muito mais difíceis que os próprios chefões daquela sessão. E os próprios chefes mesmo, caso você repita muito as sessões de luta contra eles, os padrões ficam muito evidentes, diminuindo muito o desafio.

Um desses chefes mesmo, mais para o final do jogo, possui um padrão tão previsível de movimentação, que após umas três tentativas, eu o venci e fiquei com aquele sentimento de “Nossa, era isso?”.

Apesar de muito boa, a trilha sonora também se repete muito em fases diferentes, apesar de manter o clima, mas que com umas duas composições à mais talvez resolveria essa “carência” de músicas.

 

A RECOMPENSA

Huntdown é uma excelente pedida para quem quer um jogo curtinho e divertido. Em uma realidade em que somos reféns de um consumo rápido de conteúdo e timelines infinitas, ele possui uma experiência bastante enxuta, mas com um nível de desafio bem satisfatório. Se você é do tipo de quer uma recompensa rápida, – igual essa análise – esse é o game certo para você.