É difícil fazer um review como esse de uma forma totalmente isenta. E acho que isso acontece com qualquer análise que possa ser escrita.
Mas quando isso pega na nossa mais profunda nostalgia e memória afetiva, é ainda mais passível dos sentimentos transbordarem de uma forma mais intensa. Eu nunca escondi o carinho que tenho por Alex Kidd, sobretudo pelo game original do Master System – Alex Kidd in Miracle World. Esse foi o primeiro videogame no qual eu tenho lembranças de jogar e guardo várias memórias de bons momentos que eu e o personagem cabeçudinho passamos nos divertindo.
Quando soube que Alex Kidd in Miracle World ia ganhar um remake, eu simplesmente surtei em êxtase. É muito bom rever um velho amigo que acompanhou minha infância de volta, em melhor forma e com uma aventura clássica repleta de novidades.
Felizmente, essa paixão pelo personagem me deu a possibilidade de jogá-lo em antecipado pra poder escrever essa análise. Ou melhor: escrever essa quase carta de amor a esse personagem e esse jogo.
Então, pegue seu onigiri ou seu hambúrguer e vamos dar uma volta pelo planeta Aries, na terra encantada de Radaxian.
Novos gráficos e novas aventuras
A primeira coisa que chamou a minha atenção em Alex Kidd in Miracle World DX foi no seu visual. O game é desenvolvido pela Jankenteam e publicado pela Merge Games, mesma empresa responsável pela publicação de Streets of Rage 4.
Apesar do game trazer gráficos maia bonitos – e que confesso que, na época em que o original foi lançado, era preciso de um pouco de imaginação para poder se aproximar do que ele oferecia.
Ainda mantendo a pixel art viva, o game vem recheado de novos elementos. Lembro que vi, há alguns anos, uma gameplay do James Rolfe e do Mike Matei, do Cinemassacre, em que eles falavam muito sobre o background azul gritante que o título original trazia. Já nesse remake, tudo é recheado de elementos que enchem os olhos e conseguem, ao mesmo tempo que transportar o jogador para um momento nostálgico. Os cenários de fundo são vivos, ressaltando as belezas naturais.
Os inimigos também mantiveram sua identidade inalterada, como o temido sapo mergulhador do final da primeira faze, ou até mesmo o polvo das fases sequentes, que tenta barrar seu progresso balançando um tentáculo de esferas para cima e para baixo.
Nesse aspecto, um mix de sentimentos aflora no jogador, caso ele tenha a experiência original lá do longínquo período do Master System. Um sentimento de conforto, por saber que o jogo teve um belíssimo tratamento, mas traz todos os elementos que fizeram de Alex, um personagem querido pelos fãs da SEGA.
As lutas contra os chefes permanecem com o clássico Jan-Ken-Pon, o famoso “Pedra, Papel e Tesoura”. Porém, com uma adição bem especial ao final do game e que vale a pena ser descoberto. E finalmente, é possível ver os detalhes dos personagens que antes, eram um amontoados de pixels confusos em uma televisão de tubo. O redesign aqui é primoroso e dá todo um charme especial ao game, com ares de um desenho animado.
Um enredo simples para um jogo simples
A história de Alex Kidd in Miracle World DX segue o tradicional: nele, assumimos o papel de Alex, um estudante de artes marciais e irmão do príncipe Egel, regressando ao reino de Radaxian após saber que Janken, o Grande, raptou Egel e a sua noiva. Por isso, Alex terá que passar por diversos desafios para resgatar seus amigos e restaurar a paz no reino, além de provar seu valor como um grande lutador.
No game, nós podemos andar, pular, abaixar, utilizar itens especiais para dar a Alex novas habilidades e atacar os inimigos com a força dos punhos, nadar em ambientes aquáticos e utilizar veículos para atravessar fases específicas.
Dentre os veículos que Alex pode usar, estão uma moto e uma espécie de helicóptero movido por pedais. As mecânicas da forma de utilização permanecem iguais aos do original, em que vc pode destruir blocos específicos com a moto e atirar com o helicóptero à distância. Tudo segue a mesma fórmula. E é aqui que temos alguns problemas.
Os problemas do original permanecem
Apesar de amar Alex Kidd in Miracle World e ter me apaixonado por esse remake, nem só de emoções vivem uma uma análise crítica. Afinal, como o nome diz, É CRÍTICA.
E alguns problemas do game original se mantiveram, o que pode afastar alguns jogadores que irão experimentar o game pela primeira vez. Primeiramente, a movimentação; Alex parece um personagem feito de papel. Então, não é incomum calcular um salto e morrer em um inimigo colocado devidamente no caminho do seu trajeto de pulo, só por que o personagem não possui o peso necessário pra impulsionar seu corpo para outro ponto de pouso.
Além disso, Alex não conta com uma barra de vida que lhe permite tomar golpes dos inimigos. Como no original, ao tomar um dano, automaticamente uma animação do personagem virando anjo e indo pro céu aparece e em seguida o jogo é carregado em uma tela anterior. Isso, mais uma vez, pode ser um fator de frustração pra novos jogadores, que se verão morrendo muito – principalmente nos estágios finais, em certos trechos (né, Palácio de Janken?!).
O personagem não fixa seu posicionamento e parece que constantemente está pisando em sabão, visto que qualquer movimento friamente calculado errado pode ser fatal. É compreensível que os desenvolvedores quiseram dar uma repaginada visual, mas mas manter a mesma experiência lá de trás com essas decisões. Mas a grande questão é: elas eram boas o suficiente para também não serem alvo de uma remodelagem?
Extras e nostalgia a mil!
Não apenas de apelação para a nostalgia vive Alex Kidd in Miracle World DX. Aqui, os desenvolvedores também apostaram na experiência de resgate. A versão cujo experimentei no Playstation 5, ao pressionar o botão R2, o game muda sua aparência, voltando aos gráficos do Master System. E isso pode ser feito a qualquer momento. Até mesmo os novos estágios passam por essa repaginada retrô. E não somente isso, mas a trilha sonora ganha uma sonoridade nova.
Aliás, um destaque são para os novos arranjos e músicas, com passagens que resgatam a trilha sonora original, mas que agora pode ser apreciadas por um toque de violão e outros instrumentos.
Ao concluir, novos modos são habilitados, podendo ser jogada a versão original do game – sem qualquer alteração, em um layout muito bonito -, e um modo Boss Rush, em que Alex enfrentará os chefes em batalhas contínuas, tentando cumprir a tarefa no menor tempo possível.
Durante a aventura também encontramos itens especiais que fazem um resgate ao passado da SEGA com o Master System. Esses itens estão escondidos em blocos pelas fases e vão desde a capa americana do game, até frangos escondidos em paredes – (que indireta direta, hein?) -, e personagens clássicos da SEGA, como Opa-Opa, da franquia Fantasy Zone.
Por fim, termino esse texto falando que, se não fosse Alex Kidd in Miracle World, eu jamais estaria aqui, escrevendo essa análise ou falando sobre games. Esse jogo tem um grau de importância na minha vida, pois antes de tudo, de Super Mario ou Sonic, ele me apresentou o maravilhoso mundo mágico dos games. Sem ele, talvez eu jamais teria me apaixonado por essa mídia ou por esse assunto.
Alex Kidd in Miracle World DX foi um game que joguei com olhos marejados de felicidade. Por que eu me reencontrei comigo mesmo em um outro tempo, com gráficos retrabalhados, uma outra trilha sonora tocando e com novas aventuras acontecendo.
Ao final dos créditos, a emoção tomou conta.
Como é bom se emocionar com um jogo que marcou tanto a nossa vida.