Super Mario RPG Remake (Nintendo Swich) – Análise

Morando longe da minha cidade, é sempre uma sensação curiosa quando viajo e reencontro pessoas. É uma sensação um tanto quanto estranha você ter a noção de que o tempo passou, mas um sentimento de nostalgia ainda permeia essas relações. É sempre bom rever e reencontrar amigos e parentes, mesmo que essa relação hoje seja um pouco menos calorosa, como já foi há alguns anos.

 

Eu acho que o mesmo acontece com videogames, principalmente quando reencontramos “amigos” que não vemos há algum tempo. Quando eu joguei Super Mario RPG, ainda no meu velho Super Nintendo, foi uma sensação mais ou menos assim: você conhece aqueles personagens, mas eles estão um pouco diferentes. E novos “amigos” foram apresentados a esse círculo de amizades.

 

Depois de 27 anos, eu reencontrei esses amigos que fiz lá no Super Nintendo, agora no Nintendo Switch. Algumas coisas mudaram sim, mas será que essa amizade perdurou durante todo esse tempo? É o que eu quero divagar aqui nessa análise.

 

O primeiro elefante que eu quero tirar dessa sala é o seguinte: em dados momentos, essa análise pode conter algumas ideias conduzidas mais pela minha emoção nostálgica, do que pela minha racionalidade. Então, caro leitor, você é livre pra discordar de mim o quanto quiser. Mas se for fazer, faça com o devido respeito. Eu já estou velho demais para ficar discutindo em um ambiente digital sobre jogos de videogame (e eu tenho um backlog ENORME me esperando).

 

 

VELHOS AMIGOS, NOVOS VISUAIS

Super Mario nunca teve lá um enredo muito complexo. Afinal, o foco sempre foi sobre JOGAR Super Mario, e não sobre entender todas as nuances desse mundo. Mas vamos lá: Mais uma vez, a princesa Peach foi raptada por Bowser e Mario sai em seu resgate.

 

A primeira coisa que chama a atenção aqui é que Super Mario RPG foi um dos jogos mais bonitos já lançados para o Super Nintendo. Ele trazia gráficos em um pseudo-3D, utilizando técnicas bem parecidas de pré-renderização como as que a trilogia Donkey Kong Country usava. Isso já impressionava muito na época.

 

O visual do remake é um show à parte. Isso porque o pessoal da ArtePiazza – responsável pelo remake de outros RPGs, como Dragon Quest e Romancing SaGa – fez uma excelente direção de arte, repaginando os gráficos para 3D, mas mantendo a essência “chibi” (com personagens mais achatadinhos e fofinhos), visto no game original de SNES.

 

Os efeitos de luz, sombras e elementos do cenário foram completamente retrabalhados nesse remake. Apesar do jogo manter uma identidade visual, como uma câmera fixa numa visão isométrica (ou seja, vista de uma visão superior em diagonal), os cenários agora foram mais preenchidos, evitando aquela sensação de “mapa voando”, com fundos monocromáticos e que obedeciam às limitações do console. Tudo agora enche os olhos – e a tela também.

 

Os personagens aqui continuam muito carismáticos e a atualização gráfica ajudou a tornar tudo mais lúdico e mais Mario – se é que vocês entendem. É quase como jogar uma animação do bigodudo e seus amigos, baseada no clássico do Super Nintendo. Uma atualização que só tornou o que já era bom, ainda melhor.

 

AS PEÇAS DE UMA HISTÓRIA

Como eu disse anteriormente, a história de Super Mario nunca foi algo pra lá de elaborado ou profundo. Talvez pra que seja bem palatável para crianças, e acabe não sendo um empecilho para os adultos, cansados de um dia exaustivo de trabalho e que só querem algo direto ao ponto: correr, pular e passar algumas fases.

 

No entanto, Super Mario RPG quebra um pouco o protocolo e inicia do modo tradicional: rapto da princesa; bigodudo indo salvá-la; vilão derrotado e dia salvo. Mas algo diferente acontecesse nesse processo: ao derrotar Bowser, uma grande estrela surge no céu. De repente, uma enorme espada titânica rompe a estrela, partindo-a em sete pedaços e é enterrada no castelo de Bowser. Com o choque, Mario é arremessado do covil do monstro até sua casa.

 

Toad, que estava aguardando-o retornar com a princesa sã e salva, ouve um estrondo e vai conferir o que houve. Mario então lhe conta tudo o que aconteceu e decide voltar até o castelo de Bowser para investigar a grande espada. Lá, ele é recebido por Exor. A espada então lhe diz que ela faz parte da gangue de Smithy, um ser que está tentando coletar as partes da Estrada Estelar para dominar todo o universo, com a ajuda de seus capangas-armas.

 

Exor então destrói a ponte que liga o reino dos cogumelos ao covil de Bowser a única alternativa de Mario é dar toda a volta no reino, coletar todas as partes da Estrada Estelar, enfrentar Smithy e pôr um fim a essa ameaça. E é aí que o jogo tem início.

 

Nesse processo, Mario terá que unir forças com aliados e vilões para derrotar o mal maior. Bowser e Peach eventualmente se unem ao grupo, mas dois novos colegas chegam para somar forças e tentar parar Smithy, que são Mallow e Geno. Mallow é uma criança-sapo que foi roubado no reino dos cogumelos. Curiosamente, quando ele chora, chove. E muitos detalhes dessa história valem descobrir ao longo da aventura. Geno é um espírito celestial que protege a Estada Estelar e se une ao grupo após assumir a forma de um boneco de madeira (onde é que eu já vi uma história assim?).

Nossa missão é recuperar todos os pedaços da Estrada Estelar e acabar com a ameaça de Smithy e seus capangas – Imagem: Reprodução.

O jogo possui uma estrutura bem tradicional dos antigos RPGs, como Final Fantasy e Dragon Quest: ao tocar em um inimigo, há uma transição para uma arena de combate e cada um dos personagens se dispõe nesse “tabuleiro” para enfrentar os inimigos. Ao selecionarmos o personagem, há quatro opções principais dispostas em casa um dos botões (A, B, X e Y), cada um com uma finalidade: A é um ataque padrão; B podemos defender ou fugir; X utilizamos itens e Y podemos usar ataques especiais, que são destravados ao atingirmos um nível específico.

 

Os níveis são obtidos ao enfrentarmos inimigos. Quanto mais inimigos enfrentamos e derrotamos, mais experiência adquirimos e mais habilidades são dispostas para nós. Ao passar de nível, podemos escolher o que priorizar: ataque, ataques especiais ou vida.

 

Uma coisa bem interessante que chamou a atenção na época é que Super Mario se divide em dois tipos de gameplay: fora de batalha e dentro de batalha. Fora, ele funciona quase como um jogo de plataforma, em que exploramos os cenários pulando e alcançando locais da maneira mais Mario possível – se é que vocês me entendem novamente.

 

Já em batalha, a coisa funciona de uma maneira muito mais estratégica, em que é preciso compreender o adversário e explorar suas fraquezas.

 

Não que Super Mario RPG seja um jogo extremamente difícil. Longe disso. Eu arrisco a dizer que ele deve ter sido um dos primeiros RPGs de muita gente. E o remake continua sendo acessível demais, e agora com uma série de qualidades de vida.

 

MUDANÇAS – PARA MELHOR

Uma das coisas que mais me frustravam em Super Mario RPG de SNES eram os timings de algumas armas do jogo. Diferentemente de outros RPGs, Super Mario RPG tem um sistema de que ao apertar o botão de ataque novamente, no momento certo, causava um dano crítico nos inimigos. O acerto era indicado por um aviso sonoro. Só que até descobrir o tempo correto de cada arma, levava um tempinho.

 

Já o remake ajusta isso para que o jogador saiba o tempo certo tanto de atacar quanto defender e também causar um crítico com os ataques especiais, colocando um ponto de exclamação na cabeça do personagem, indicando que aquela é a janela para pressionar o botão novamente e causar o acerto crítico, ou a defesa. Após um certo período de acertos consecutivos, o jogo entende que você já dominou aquela habilidade e para de exibir o sinal de alerta. Caso você volte a errar, o aviso retorna para você se familiarizar novamente.

As novidades não ficam apenas nos gráficos: o combate também recebeu melhorias. – Imagem: Reprodução.

Outra coisa que teve uma mudança para melhor foi a coleta de itens. No jogo original, havia uma limitação de itens que o personagem podia carregar, e caso você adquirisse mais algum item, ele não contabilizava essa coleta. Aqui, eles resolveram isso criando uma espécie de baú de depósito, que ao atingir um número X de itens em seu inventário, ele joga automaticamente aquele item para o baú, fazendo com que ele não se perca.

 

Além disso, uma mudança bastante positiva do remake foi sobre as Frog Coins – ou Moedas Sapo -, que eram bem trabalhosas de serem coletadas no game original. Aqui, além de parecer que ficaram menos trabalhosas de coletá-las, há jeitos bem interessantes de adquiri-las. Um desses modos se dá por meio das batalhas contra inimigos mais fortes. Ao entrar em combates pelo mapa, podemos encontrar inimigos mais fortes, que ao serem derrotados, deixam uma Moeda Sapo como recompensa, o que ajuda bastante em relação ao game original.

 

Algo que também veio para melhorar a experiência do game foram os menus. Os menus originais de Super Mario RPG nunca foram lá muito bonitos ou responsivos. Já o remake trouxe menus mais completos e com adições bem interessantes. Uma delas chama-se Journal, em que Mallow utiliza como uma espécie de diário, relatando todos os momentos chave da trama, e que você pode revisitar para poder saber mais sobre a história, ou se você ficar muito tempo sem jogar, saber em que ponto da trama está.

Os menus receberam ótimas adições em relação ao original. – Imagem: Reprodução.

Outra adição interessante foi a navegação no mapa, que agora também conta com um sistema de viagem rápida, facilitando a navegação no game, já que no original, era preciso retornar ao mapa de navegação do jogo para poder voltar ou seguir adiante. Aqui, basta abrir o menu e todos os pontos já visitados por Mario e seu grupo poderão ser visitados, incluindo subseções, o que ajuda e muito, na hora de revisitar locais em busca de novas aventuras.

 

OS PERCALÇOS DA AVENTURA

Apesar da minha experiência ter sido bem satisfatória, problemas acontecem nesse percurso. E claro que eu não poderia deixar de notar que um dos grandes problemas desse remake é que, bem… Ele é um remake cru. Ele é aquele tipo de experiência pela qual você sempre sonhou, mas que por alguma razão você sente que ele poderia ter ido um pouquinho além e ter trazido alguma coisa realmente nova, como responder a uma grande dúvida: Onde Luigi estava esse tempo todo, e porque ele só aparece em dois momentos no game? (inclusive uma delas até bem triste, eu diria)

 

Não que o jogo peca por ser um remake 1:1, mas eu acho que a ArtePiazza, Nintendo e Square Enix poderiam ter usado essa oportunidade para nos dar mais desses personagens, desse mundo, dessa história que tanto gostamos.

Apesar das melhorias, o game é uma reprodução fiel ao jogo original de SNES. – Imagem: Reprodução.

Outro fator que deixa a desejar aqui é a falta de uma localização em português para o game. Super Mario RPG é um jogo com um humor muito bobalhão, ao melhor estilo Chaves, e ele se beneficia muito desse aspecto de poder contar uma história e poder fazer piadas com o design de alguns personagens e também de algumas situações. Uma localização oficial em português seria uma ótima adição – sobretudo para jogadores mais novos que nunca tiveram contato com o jogo original e que não tem um inglês tão apurado. Há opções de legendas em espanhol, mas mesmo assim, ainda há um processo de perder algumas nuances e piadas com isso.

 

Há alguns problemas que são só chatice uma minha mesmo, como a repetição abundante de inimigos por certos trechos do game, além da dificuldade não ser um grande empecilho. Super Mario RPG não quer ser um RPG difícil ou desafiador. Ele não tem essa ambição. Mas até mesmo os trechos finais que deveriam ser mais “casca-grossa”, acabam sendo bem tranquilos, se você estiver em um nível alto e munido de um bom arsenal.

 

ALGUNS EXTRAS

Uff, essa análise já está gigante. Ainda poderia passar horas escrevendo sobre esse jogo. Mas acredito que boa parte de vocês já foi embora… Então essa parte extra aqui vai ficar para os leitores HARDCORES.

 

E como HARDCORES, com certeza vocês querem desafios. Pois bem! O game tem isso sim. Mas você vai precisar termina-lo para liberar uma espécie de Boss Challenge (Desafios do Chefes), em que você poderá ter uma revanche contra os chefes do jogo, agora em uma versão mais difícil, para coletar recompensar e também se desafiar um pouco. É uma adição bem legal, pra quem busca um desafio maior no game.

 

Para mim, talvez a adição mais interessante do game foi os Triple Moves, que são uma espécie de ultra golpes especiais – com direito a animação e tudo -, ao conseguir encher uma barra no canto inferior esquerdo da tela ao derrotar inimigos. Cada trio de personagens possui um Triple Move diferente: Mario, Mallow e Peach fazem um arco-íris que recupera todos os status do trio, além de recuperar uma boa quantidade de vida. Mallow, Mario e Bowser disferem uma rajada de tiros atingindo todos os inimigos na tela, causando uma enorme quantidade de dano. Geno, Mallow e Mario fazem uma rajada de poderes que atinge todos na arena e por aí vai.

Todos os Triple Moves contam com animações únicas – e lindas! – Imagem: Reprodução.

É muito legal ir testando essas combinações pois cada um possui uma animação única e também causa um efeito único nos inimigos. E o melhor: isso pode ser feito a qualquer momento, pois agora é possível trocar de personagem no meio das batalhas, ao pressionar o botão “+”, o que cria uma dinâmica bem interessante para o combate do jogo.

 

O SALDO DA VISITA

Voltando a questão inicial dessa análise: visitar velhos amigos é sempre bom. Somos moldados em nossas experiências de vida e apenas o tempo e nossa permanência com prazo de validade aqui nesse mundo podem apaga-las. Com Super Mario RPG não é diferente. A sensação que tive ao jogar esse jogo é justamente essa: reencontrar amigos da minha infância. Relembrar uma aventura que tive com esses personagens. Poder reencontrar quem eu era e quem eu sou, enquanto alguém que ama videogames e como foi e como é a minha relação com essa mídia.

 

Há quem diga que a nostalgia é ruim. Eu acho que esse sentimento têm, na dose certa, o poder de nos levar pra qualquer momento bom das nossas vidas. Super Mario RPG Remake foi uma espécie de cápsula do tempo pra mim. Jogando, eu conseguia me ver na frente do meu Super Nintendo, lá com meus 10 anos, me aventurando por esse lugar que me é tão familiar.

 

Visitar velhos amigos é visitar um pouco da nossa própria história.