[Crítica] The Last Kingdom – 1ª Temporada.

Que todos estavam ansiosos com o regresso de Game of Thrones, isso ninguém pode negar. Mas, aguardar por um ano o regresso da série, sem consumir nada desse nicho nesse período, é um pouco difícil. Eu confesso que consegui assistir à todas as temporadas de Vikings (série muito boa que pretendo falar sobre ela), e outra que cativa tanto os amantes de literatura, quanto os dos grandes épicos: The Last Kingdom.

The Last Kingdom (ou “O Último Reino”) é uma série adaptada dos livros do escritor Bernard Cornwell, que narra praticamente, a construção da civilização inglesa, desde os tempos das invasões Vikings. E é justamente nesse ponto, que a história tem início.

Antes de continuar, eu gostaria de dizer que alguns SPOILERS se fazem necessários, para poder contextualizar fatos da série, já que sem eles seria impossível avançar em certas explicações.

Nela, conhecemos o jovem Uthred, filho de um ealdorman (uma espécie de líder de uma cidadela, como o Ned Stark em “Game of Thrones”) que possui o mesmo nome, e que vivia uma vida tranqüila e serena em Bebbenburg, na Nortúmbria (um dos reinos que faziam parte da Grã-Bretanha).
– Infelizmente, eu não tive acesso aos livros de Cornwell para poder parametrizar com os ocorridos na série, portanto, toda a minha explicação ficará nos ocorridos vistos apenas na série.
Tudo ia de vento em polpa, quando um belo dia, Uhtred pai e filho, juntamente com a sua guarnição avistaram da praia navios Vikings atracando nas proximidades.

Sem exitar, Uhtred (o pai), juntou seus melhores soldados, e recrutou homens dispostos a se sacrificar pelo bem de Bebbenburg, e todos partiram para a batalha.

uthred child

Uhtred (o filho), conseguiu ir escondido para o campo de batalha e lá, acaba testemunhando a morte de seu pai. Nisso, ele é descoberto por Ragnar, “O Intrépido” que o leva como “saque”, juntamente com uma garota chamada Brida.

Apesar de ter sido levado para a Dinamarca como escravo, Uhtred e Brida são criados por Ragnar e sua família como parte dela, chegando ao ponto de se considerarem irmãos do filho de Ragnar, também chamado Ragnar, “O Jovem”.

Nesse ponto aqui, a série finaliza a etapa da fase criança de Uhtred. Tudo é muito resumido e rápido, o que acabou deixando alguns fãs que acompanham a série literária, bastante decepcionados, já que o primeiro capítulo resume (e muito), o PRIMEIRO LIVRO da série “As Crônicas Saxônicas”.
Sim, GoT demora uma temporada toda pra contar parte de um dos imensos volumes escritos por Martin, enquanto que a série da BBC faz um ultra-resumo.

Agora, com Uhtred já adulto, sua vida como dinamarquês era sua realidade. Brida também virou uma moça, e a química entre os dois filhos adotivos de Ragnar, é evidente. E é nesse ponto, que The Last Kingdom consegue fazer uma trama desenvolvida e interessante. Como saxão, Uhtred era batizado, e temente à Igreja e ao cristianismo.
Já adulto, devido a convivência e a forte influencia Viking, Uhtred passou a ser um deles. Consumido pelas suas crenças e sua cultura.
Apesar de grande parte de sua vida ter sido dinamarquesa, Uhtred ainda sonha em tomar-lhe aquilo que lhe é por direito. E uma grande sede de vingança de seu tio, que tomou Bebbenburg após a morte de seu pai, rega os sentimentos do personagem.

Alexander-Dreymon-in-The-Last-Kingdom-Season-1-Episode-8

Aqui, já vemos que apesar de saírem do mesmo lugar, personagens podem ter pontos de vista completamente diferentes sobre o que lhes é importante. Brida por exemplo, ignora qualquer fato que ligue sua origem à Inglaterra. Ela se assumiu como dinamarquesa, e luta ao lado de Ragnar “O Jovem”, como uma mulher Viking, desprezando qualquer coisa que seja de suas origens. O que não ocorre com Uhtred, que mesmo tendo uma enorme empatia pelos que lhe criaram, quer garantir seu lugar em sua terra natal, e viver como tal. Porém, isso pode ir ficando com certas evidências duvidosas, já que alguns preceitos de Uhtred para com aquela sociedade  são completamente contraditórios.

Porém, isso é apenas um pano de fundo em meio a tudo que ocorre na vida de Uhtred.
Isso por que a série por muitas vezes, acaba se perdendo no foco de certos pontos.

Dentre todos os ocorridos na vida de Uhtred após o seu regresso para a Inglaterra, esse é o nó que ainda permanece desatado – claro, para que uma continuação seja garantida.
Mas, em outros momentos, a série se sobressai mostrando o conflito interno  que Uhtred tem, perante o que lhe é certo. Exemplificando melhor:

Uhtred sabe que é um saxão, e que pertence aquele lugar. Porém, seus costumes desde que foi criado com Ragnar, o impedem de ceder a certos anseios da sociedade saxã.
Os próprios Ingleses, como o Rei Alfredo, não enxergam Uhtred como um saxão, mas como um Viking – e o personagem vive intensamente esse conflito, já que em muitos momentos, ele terá que optar por um lado.

Seu anseio de vingança ainda é forte e crescente, mas seu amor por “seu povo”, e, sobretudo por seu irmão Ragnar, sempre acabam levando Uthred a contrabalancear suas decisões.

A reintegração de Uthred na sociedade saxã é vagarosa, e por muitas vezes, suicida. Chegando ao ponto de ele ter que fazer coisas impensáveis, sozinho. Tudo isso, na busca por provar para a sociedade de Wessex ( o único reino no qual o povo Viking ainda encontrava dificuldades de domínio – daí, vem o nome da série) e demais reinos, que ele era como eles, e não um selvagem que tramava ajudar os dinamarqueses a dominar o território.

The Last Kingdom bebe da fonte das grandes produções que vieram pós-Game of Thrones, trazendo uma trama envolvente, e uma adaptação com muito conteúdo histórico. E esse é outro diferencial da trama, que visa contar um pouco dos registros históricos daquela época, pra que possamos entender como funcionava a sociedade, e como ela estava sendo moldada naquela época.
É interessante visar que, apesar de muita ficção, Cornwell é um autor que preza muito pelo contexto histórico de suas obras, e mescla fatos, com eventos e personagens fictícios, pra dar aquele “tempero romancista” na obra. Mas, nada que tire o brilho histórico, e faça os professores e historiadores se descabelarem com seu romance.

Em suma: The Last Kingdom é uma boa série para você que quer preencher a lacuna de uma boa série, ou de um hiato de alguma outra que você está aguardando retornar. Para os amantes de tramas desenvolvidas, e de tentar compreender como a sociedade medieval funcionava, vai aqui a dica do tio. É diversão garantida pra você que está carente de uma boa pedida de série.