Dude, Where’s My Beer? (PC) – Review

Em meio a tantos jogos com orçamentos gigantescos, efeitos visuais incríveis e que usam tudo o que a geração atual de consoles e PC tem a oferecer, os games indies apostam e propostas inusitadas e interessantes, remontando clássicos de outros tempos.

Dentre esses títulos que saem dessa curva, um deles se destaca por usa premissa inusitada e a mensagem incrustada, mostrando um conflito geracional através da cerveja. Dude, Where’s My Beer? Mostra como o simples apreciar de uma cerveja pilsen pode se tornar uma epopeia cheia de desdobramentos em um mundo dominado pelas cervejas artesanais e hipsters arrogantes.

Tudo começa com nosso protagonista descendo de seu ônibus para uma pausa de descanso. Aparentando ser alguém mais velho, ele decide passar em um dos bares, próximo da rodoviária para beber uma tradicional e verdadeira cerveja pilsen. Mas é aqui que as coisas começam a ficar complicadas quando, indo de bar em bar, ele descobre que ninguém mais sabe o que é uma cerveja pilsen. Em um mundo dominado por IPA, APA e outras variedades de cervejas, o grande trunfo aqui é satisfazer esse desejo.

Um dos pontos fortes do game é seu humor e a quebra da quarta parede, tendo ciência de que é um jogo. – Imagem: Reprodução

A primeira coisa que chama a atenção no game é como ele trabalha bem o humor e a quebra da quarta parede. Alguns dos diálogos falam diretamente com o jogador, mostrando que o jogo desenvolvido por Arik Zurabian e Edo Brenes tem total ciência de que é um jogo de vídeo game e tem total liberdade para fazer considerações e críticas a outros jogos. Isso se intensifica conforme vamos experimentando novas cervejas e ficamos menos sóbrios. Quanto mais bêbado se fica, mais engraçado e divertido são os diálogos.

O visual também chama a atenção, pois é como se você estivesse jogando um desenho animado ou uma charge. Os cenários possuem uma riqueza de detalhes e os personagens, apesar de um visual mais minimalista, trazem um carisma interessante e que torna a ambientação agradável.

A trilha sonora é bem variada. Você tem uma trilha padrão para a navegação da cidade, e cada bar possui uma temática, indo do heavy metal à cultura indiana, passando por bares em que é audível apenas o vozerio das pessoas que estão no ambiente.

Uma das principais características de interação é que o protagonista só consegue puxar assunto quando o nível de álcool no organismo aumenta. – Foto: Reprodução.

A movimentação e o gameplay se concentram em andar e interagir com objetos e pessoas, como nos clássicos jogos point-in-click da LucasArts. A tela é dividida em três campos principais, onde você pode checar os itens que você coleta durante seu gameplay, além de uma lista de verbos como “usar” ou “coletar” – que podem ser acionadas pelo teclado do PC – e claro, a tela do gameplay. Apesar de ter um ritmo lento – pra quem não está habituado com esse tipo de jogo – os diálogos são bem construídos e você acaba se divertindo bastante e quer saber como tudo chegou naquele ponto.

Sobre problemas, o grande ponto que pode afastar novos jogadores de Dude, Where’s My Beer? é o seu gameplay lento e, somado a isso, a falta de inclusão de textos em português em um jogo que depende basicamente de prestar a atenção em dicas dos personagens pelos diálogos, torna o game pouco inclusivo – já que ele conta apenas com as opções de Inglês, Espanhol e Russo.

Um ponto interessante sobre esse jogo é a forma como ele aborda o conflito geracional através da cerveja e como o nosso protagonista, uma pessoa mais velha e que parece ter chegado ontem a este mundo, ainda encontra uma certa resistência ao novo, ao que não parece ser o habitual. A própria forma com que ele interage com as pessoas já é algo interessante: Nós só podemos conversar com pessoas que não são bartenders ou o motorista do ônibus, se estivermos levemente embriagados. Caso contrário, a comunicação não ocorre e somos obrigados a pegar uma nova cerveja no bar mais próximo para fazer tal ação.
Além disso, os diálogos entre o protagonista e as pessoas que permeiam aquele mundo são interessantes e que mostram que o mundo foi em frente, trazendo muitas coisas novas. A cerveja aqui é apenas uma desculpa pra trazer uma narrativa conflituosa sobre o tradicional e o novo, sobre o conservador e o progresso, sobre o velho e o atual mundo. Nisso, Dude, Where’s My Beer? consegue, com uma história torpe, trazer essa narrativa para a luz.

Dude, Where’s My Beer? É uma proposta interessante e fora da curva, que mesmo com uma narrativa simples, levanta questões muito importantes sobre conflitos geracionais. O game está disponível para PC, via Steam e é uma excelente pedida para os amantes de Point-and-Click. Para novos jogadores, a falta de mais opções de línguas e uma mecânica que se assemelha aos clássicos games desse gênero pode ser uma experiência confusa e pouco atrativa.