Confesso que nunca me chamou a atenção esses jogos com visual de anime e gatcha. Não sei porque, esse tipo de estética, alinhado com um gameplay que pode acabar te forçando a colocar mais tempo do que o necessário (e, às vezes, grana) nunca conversou comigo. Tanto é que a primeira vez que eu soube da existência da série Dungeon & Fighter foi durante uma pesquisa para essa análise.
Porém, quando eu joguei a demo de The First Berserker: Khazam, e soube que ele vinha de um universo com essa premissa, isso não gerou nenhum ruído ou me afastou do game. O universo de fantasia criado pela Neople e publicado pela Nexon acabou me lembrando de uma outra obra com um visual artístico parecido, da qual eu sou muito fã: Berserk.
O game chega ao mercado com a ambição de mergulhar os jogadores em um mundo sombrio e desafiador no estilo Souls-like, colocando os fãs no papel de Khazam, um guerreiro caído em busca de redenção em meio a um universo repleto de violência e mitologia.
Mas será que o título consegue se destacar em um gênero atualmente “saturado” por gigantes como Dark Souls e Elden Ring?
UMA JORNADA DE VINGANÇA E LOUCURA
A narrativa de The First Berserker: Khazam gira em torno do protagonista, o general Khazam, um ex-herói que, após ser traído e consumido por uma maldição, se transforma em uma figura brutal e sanguinária. O enredo explora bastante algumas temáticas como culpa, obsessão e a sobre a violência em tempos de guerra – o que faz com que ele tenha uma temática bastante atual, dado o nosso contexto geopolítico.
Apesar de contar com uma premissa interessante, a história peca em desenvolvimento, muitas vezes relegando a lore a textos descritivos, sejam eles em itens que você coleta ao longo do caminho, seja através de documentos espalhados pelos cenários.
Os diálogos são pouco impactantes, trazendo uma premissa bastante rasa para que não é fã da franquia originária em que o jogo se baseia. Já os fãs de Dungeon & Fighter podem apreciar as referências ao universo original. Porém, pode ficar tranquilo: se você, assim como eu, não conhecia a franquia original em que Khazam está inserido, isso não irá estragar a sua experiência. No entanto, para aqueles que buscam algo além do gameplay, e querem se entregar na história, pode ser que você se decepcione um pouco.
BRUTALIDADE SATISFATÓRIA, MAS COM LIMITAÇÕES
O combate é o ponto alto de The First Berserker: Khazam. Os movimentos são pesados e impactantes, com um sistema que recompensa timing preciso e puni erros de forma implacável – uma marca registrada dos Souls-likes. Eu digo aqui que esse game é quase um jogo rítmico com elementos de Souls-Like.
Isso porque não será incomum você aprender os padrões dos inimigos mais cascas-grossas, mas é saber cadenciar o tempo certo dos ataques com que tipo de contragolpe você irá puni-lo. Diferentemente de outros jogos desse estilo, o seu ataque mais forte ao derrubar um inimigo pode não ser aquele em acertar o ponto fraco, mas sim investir em uma sequência que utilize esse momento oportuno para que ele possa causar mais dano.
Khazam dispõe de um arsenal variado, desde espadas gigantes até ataques bestiais desencadeados por sua maldição. Apesar de Souls-Likes mais tradicionais como Dark Souls terem uma vasta quantidade de itens, é inegável que The First Berserker: Khazam possui uma similaridade de loot parecida com Ni-Oh, em que você tem até mesmo variações do mesmo item, com alguns atributos à mais ou à menos. Tudo isso para criar um dinamismo único entre o seu estilo de jogo, com o visual do seu personagem.

Além de uma variedade de inimigos, o jogador também encontrará uma INFINIDADE de itens ao longo da jornada. – Imagem: Reprodução.
No entanto, o jogo sofre com uma progressão desbalanceada em sua dificuldade. Alguns chefes são memoráveis e desafiadores, enquanto outros parecem mal ajustados no que diz respeito a sua dificuldade, oscilando entre frustrantemente difíceis (um abraço ao chefe Viper que quase me fez buscar um implante de cabelo URGENTE, antes de uma atualização que o nerfou) ou absurdamente fáceis (dou o crédito aos chefes da demo disponibilizada, pois eles não refletem o quanto os desenvolvedores PESARAM a mão na dificuldade com o que veio no game completo).
Além disso, a exploração é menos recompensadora do que em títulos similares, com poucos segredos ou itens que incentivem a investigação minuciosa do cenário. Alguns dos cenários são abertos e até incentivam o jogador a buscar atalhos e caminhos alternativos, mas a recompensa encontrada nesse percurso é quase sempre nenhuma, ou que não justifica todo o árduo caminho trilhado.
UM SOULS-LIKE COM PERSONALIDADE PRÓPRIA?
Visualmente, The First Berserker: Khazam aposta em um estilo artístico gótico, com cenários detalhados e uma paleta de cores sombria. O game também mescla muito bem o detalhamento de cenários, armaduras e personagens, com um estilo de arte anime.
Uma coisa que realmente nunca me atraiu em jogos foi esse visual de anime. Porém, eu acho que First Berserker: Khazam casa muito bem esses estilos e eu ousaria dizer que essa talvez seja a equipe perfeita para que um jogo baseado em Berserk, em um estilo souls saísse do papel (é sonhar demais, Nexon? É sonhar muito alto?).

Inimigos gigantes e demoníacas. Uma atmosfera sombria. E muita violência. É Berserker ou BERSERK? – Imagem: Reprodução.
Sobre performance, a versão que joguei foi a Deluxe do Playstation 5, que roda extremamente bem, na maior parte do tempo. Em alguns cenários com mais detalhamento e presença de inimigos, eu acabei notando alguns pequenos gargalos, mas que foram corrigidos em updates após o lançamento oficial do jogo.
Comparado a outros jogos do gênero, como Lies of P ou Nioh 2, Khazam não inova muito em mecânicas, mas entrega uma experiência sólida para quem busca mais um título desafiador. Particularmente, eu sugiro que você treine muito a sua capacidade de respirar fundo, pois se tem uma coisa que esse game faz e faz bem, é fazer você pegar ar.
A falta de um sistema de multiplayer (coop ou PvP) pode ser um ponto negativo para alguns jogadores que gostam de um desafio contra outros jogadores. Não é nada que estrague a experiência, mas sim, existem jogadores que adoram o sistema PvP de outros títulos, como Dark Souls ou Bloodborne.
ATMOSFERA IMERSIVA
A trilha sonora traz bastante daquela alma de um bom souls-like: orquestrada, com corais e um tom bastante soturno para ajudar na criação desse mundo sombrio e em decadência ajudam a imergir o jogador no clima de desespero do game. Os efeitos de som são bem trabalhados, com golpes pesados e grunhidos bestiais de Khazam reforçando a brutalidade do combate.
Um ótimo destaque para os efeitos sonoros são os sons de golpes e de defesa das armas. É possível sentir o peso das armas ao desferir um golpe nos inimigos, ao mesmo tempo que é muito agradável ouvir o som metálico do metal batendo sobre o metal.
A dublagem em inglês soa um tanto artificial em alguns momentos, com entregas de diálogo que não conseguem transmitir toda a intensidade emocional que alguns momentos pedem dos atores, ficando bastante “robotizadas” e mecânicas.
PONTOS NEGATIVOS
Além dos já citados desequilíbrios de dificuldade e performance irregular, vou tentar ser bem objetivo quanto a alguns problemas que presenciei durante minhas quase 60 horas com esse game:
- Bugs de animação: Golpes às vezes não conectam visualmente, mesmo acertando o inimigo. E isso vale para o personagem Khazam. Em certos momentos, eu tinha certeza que o golpe desferido tinha encaixado no inimigo e por alguma razão, a hitbox não computou o dano. Há também momentos em que é possível ver o personagem desviando de um golpe e o game registra que você tomou um dano.
- IA questionável: Inimigos ocasionalmente ficam presos no cenário ou repetem padrões de ataque previsíveis. Em um determinado momento, logo no início do game, é possível ver um grupo de inimigos brigando entre si. Simplesmente um deles desistiu e se atirou num buraco, tentando vir me atacar.
- Progressão confusa: O sistema de upgrades não é tão claro quanto em outros Souls-likes, deixando jogadores perdidos sobre como melhorar seu personagem. A árvore de habilidades desse game é GIGANTESCA. No entanto, ela é um tanto confusa e em alguns momentos você seleciona uma habilidade praticamente inútil. Felizmente isso pode ser redistribuído de outra maneira, resetando os pontos.
UM BOM SOULS-LIKE QUE NÃO REINVENTA A RODA
The First Berserker: Khazam é uma experiência competente para fãs de ação desafiadora, com um combate visceral e uma atmosfera densa. Ele possui alguns problemas e bebe de diversas fontes diferentes para figurar no hall de bons jogos desse gênero, mas que não cria uma adição significativa como outros títulos.
Talvez a sua grande adição aqui é que não basta apenas decorar o move set dos inimigos e enxergar janelas de contra atacar, mas é saber esperar seu momento nessa dança em forma de combate, além de equilibrar oportunidades de punir os adversários, com saber se defender e usar o cenário como palco.
Se você é um entusiasta de Dungeon & Fighter ou um jogador ávido por mais um título difícil, vale a pena dar uma chance a Khazam. Mas se busca algo realmente único e completamente novo, talvez seja melhor aguardar as próximas atualizações – ou partir para outras opções mais polidas do gênero.
Esta cópia de The First Berserker: Khazam para Playstation 5 foi gentilmente cedida para a realização desta análise.