Biomutant – Review (PS4)

Quando Biomutant surgiu em um trailer muito curioso na E3 2019, trazendo um personagem que mais parecia ter saído de algum filme de Kung-Fu Panda, criei uma enorme expectativa sobre como o jogo seria e funcionaria. Desenvolvido pelo time sueco da Experiment 101 e publicado pela THQ Nordic, o game traz uma mescla de vários elementos vistos em outros games, em um mundo dominado por seres antropomórficos que se desenvolveram como sociedade após um apocalipse ambiental.

No game, nosso personagem faz o papel do protagonista silencioso. Tudo é narrado por nosso pequeno companheiro, um autômato em formato de grilo, que com sua voz potente, irá nos guiar pelos eventos desse mundo desolado e cheio de desafios, mas veremos isso no decorrer dessa análise.

A primeira coisa que faremos ao iniciar Biomutant é personalizar nosso personagem. Temos algumas opções que interferem não só na nossa aparência (alguns são estranhos, esguios e esquisitos, já outros, passam uma sensação de força e valentia), mas nos status do personagem, dependendo da sua maneira de gameplay. Mas tudo isso é apenas uma opção inicial e cosmética. Ao longo do game, fica evidente que o jogador terá total domínio sobre a construção do seu personagem.

Após isso, iniciamos o game aprendendo os comandos básicos como correr, saltar, atacar, desviar de ataques, contra-atacar, atirar e realizar combos. Vale observar que, como se trata de um game em que o jogador lidará com inimigos de forma majoritariamente sozinha, era de se esperar que teríamos a opção de selecionar nosso alvo para focar nossa investida nele, correto? Bom, aqui em Biomutant, os desenvolvedores apostaram numa forma de combate semelhante ao visto na série Batman Arkham, em que você deverá ficar atento ao momento em que os inimigos irão atacar seu personagem e realizar um contragolpe ou quando deve ser desviado de um ataque massivo. Confesso que, em primeiro instante, achei bem estranho, visto que os últimos títulos que joguei possuíam essa mecânica de trava de mira, então, tive que reaprender a jogar sem o auxílio dessa ferramenta.

Além disso, esse sistema de combate, em um game em que você tem um sistema de combos com armas de fogo, também parece uma decisão estranha. É muito comum a mira indicar o inimigo, mas o combate está tão frenético que você acaba atirando para todos os lados e erra seu alvo por diversas vezes. Tirando isso, os controles respondem bem, são bastante intuitivos e bem mapeados.


Uma mescla de vários elementos que geram uma crise de identidade

Biomutant traz uma infinidade de elementos já vistos em outros games. Não irei me aprofundar tanto neles, mas coisas que já vimos em outros jogos estão presentes aqui, como um sistema de coleta de itens pelo cenário que consiste em limpar uma área recolhendo esses equipamentos. Tais itens podem lhe dar status positivos contra elementos como fogo, gelo, radiação etc.

O game também conta com um sistema de níveis, que podem ser adquiridos realizando missões – primárias e secundárias -, e claro, enfrentando inimigos. Esses níveis podem ser distribuídos entre vários atributos, como aumento de vida, energia ki (que aqui tem sua função como se fosse uma espécie de stamina), persuasão – que auxilia nos diálogos com NPCs -, sorte – aumentando suas chances de drops melhores de inimigos – e força, – que aumenta sua taxa de dano.

Como dito no tópico acima, o game conta com um sistema de missões primárias e secundárias – bem ao estilo de The Witcher 3: Wild Hunt -, contando com um mundo aberto com bastante vida e histórias paralelas que complementam a aventura principal, já que alguns NPCs lhe dão mais detalhes sobre o que aconteceu naquele mundo antes dos eventos apocalípticos do passado.

Também contamos com um sistema de viagem rápida e aqui temos um detalhe bem curioso: como nosso personagem é um animal, é passível que algumas coisas do seu instinto ainda tenham permanecido, então toda vez que você encontra um ponto de viagem rápida, ele irá “marcar” o ponto com o seu próprio xixi, como se fosse um cachorro marcando território em um poste.

E claro, o game também traz um sistema de coleta de recursos, em que o jogador encontrará alguns itens-chave para poder criar e aprimorar seus equipamentos. Isso inclui alguns itens como madeira, microchips, arruelas e tantos outros.

Todos esses elementos já foram vistos em diversos jogos, como Skyrim, The Witcher, The Last of Us e tantos outros. Só que Biomutant apenas os unifica, não traz nada de novo dentro dessas mecânicas, ficando limitado apenas em ter esses sistemas, com o propósito do jogador apenas ter um personagem totalmente único em sua aventura.

Tribos, facções e escolhas morais

Além de todos os aspectos aqui citados, Biomutant também conta com um sistema de escolhas morais, tipicamente vistos em jogos que dão liberdade para o jogador agir de forma mais pacifista ou mais agressiva. Cada uma delas geram pontos de Luz ou Trevas, o que permite ao jogador poder investir em habilidades únicas de cada escolha moral, podendo atuar de forma mais evasiva ou mais agressiva.

O jogo também pede ao jogador que se alie a uma das principais tribos do game. Lembrando que a inclusão em uma, resultará no embate com a outra. Porém, cada uma delas possui objetivos distintos dentro do propósito do jogo, e cabe a você escolher aquela que se alinha melhor com o seu propósito. Você é mais agressivo e não está se importando com as consequências desse embate, ou se vê mais pacífico, e quer propor um bem estar coletivo para os habitantes desse mundo?

Ele também conta com algumas facções – grupos de inimigos espalhados pelo mapa, que guardam alguns pontos estratégicos e que, ao serem confrontados, podem deixar alguns itens únicos para que você possa seguir sua viagem com mais recursos e melhores equipamentos – ou não – até seu embate final.

Gráficos bonitos, desempenho nem tanto

Uma coisa é fato: Biomutant é um game com um visual lindíssimo. A ambientação a todo momento quer te passar a sensação de que a natureza, assim como na vida real, retoma o seu lugar no mundo e o domina, mesmo após uma catástrofe apocalíptica. Os cenários são repletos de beleza e de campos verdejantes, montanhas imponentes e ruínas e aterros sanitários que contrastam com o ambiente natural estonteante.

Porém, nem tudo são flores aqui. Tive o privilégio de testar o jogo no Playstation 5, que em tese, apresentaria um desempenho melhorado graças ao SSD e ao sistema mais robusto do atual console, em relação a plataforma de lançamento do jogo, o Playstation 4. E me surpreendi.

Negativamente.

É impressionante como Biomutant sofre para rodar em alguns trechos. Em certos pontos, eu tive alguns problemas como:

– Congelamento de tela;

– Quedas de quadros;

– Delays de renderização;

– Falta de renderização de pontos do cenário e itens;

– Modelos de personagens que pararam de ter animação;

– Inteligência artificial de inimigos desligar;

– Montarias que nunca apareceram;

Esses foram apenas alguns da lista. Durante a minha experiência, o game até recebeu uma atualização que ajustou algumas pequenas coisas da performance, mas os problemas de renderização e queda de quadros ainda surgem aqui e ali.

O que me pergunto é: se esses problemas ocorrem no Playstation 5, que na prática é um sistema mais robusto e potente, apresenta problema de performance, imagina como esse game irá rodar em um Playstation 4 base?

A própria THQ Nordic destacou recentemente que, por enquanto, o game está rodando nativamente a 1080p e 60fps no Playstation 5, e não a 4K. Atualizações posteriores poderão habilitar esse recurso para quem já estiver com a plataforma disponível.


Uma mensagem ambiental

Apesar dos problemas de performance e de trazer pouca coisa nova, dentro de mecânicas já vistas em outros títulos, Biomutant acaba sendo um game com uma mensagem ambiental bastante forte. A própria justificativa dos personagens serem como são é explorada dentro da narrativa do game. E aqui, pode ser que eu acabe entrando em alguns SPOILERS, então, continue a partir daqui por usa conta e risco:

De acordo com o lore do jogo, os humanos foram os grandes causadores desse apocalipse ambiental. As grandes empresas exploraram os recursos naturais e despejaram tantos resíduos tóxicos na natureza, que catástrofes ambientais e a falta de recursos causou a extinção da raça humana e fez com que os animais evoluíssem – bom, uma parte deles, ao menos.

Isso fica bastante evidente com os resquícios de construções, automóveis, estruturas e tecnologia humanas, deixadas naquele mundo como uma memória, um eco do passado e o tempo todo, o jogo trabalha com esse reavivamento desse passado.

E isso serve diretamente pra nossa realidade, com o compromisso que todos nós temos que ter com a preservação do planeta. A própria pandemia que vivemos nesses tempos – e espero que você também leia isso após passarmos por esse período – é uma consequência da atuação do ser humano no ambiente que vive. É uma reação do mundo ao nosso estilo de vida consumista e produtivo, que não mede consequências quando a obtenção de lucro se faz maior do que o bem estar social. Pandemias acontecem de tempos em tempos. E é nosso papel repensar nossa forma de atuação com o mundo pra que esse tipo de consequência seja menos presente, e que possamos seguir a vida com menos riscos.

Vale a pena?

Apesar dos problemas de performance e de não ter sistemas mais refinados, dentre todos aqueles que foram listados aqui, Biomutant é um jogo divertido e que te imerge naquele universo. Por mais que você enxergue seus problemas, o game tem um carisma muito forte e a cada sentada para continuar a aventura me rendiam 3 ou 4 horas de diversão.

Há muito o que se fazer nesse mundo, então já se prepare para uma aventura longa. Mas você tem a liberdade de seguir apenas a campanha principal. Mas adianto: tomar essa decisão pode fazer você perder muita coisa interessante. Assim como The Witcher 3: Wild Hunt, há boas coisas acontecendo paralelamente à história principal. Mas depende do seu tempo e do seu interesse.

Em suma, é um game que me diverti e estou me divertindo, descobrindo algumas coisas secundárias aqui e ali. Mas os problemas de performance e quedas de quadros podem acabar sendo uma pequena frustração de um game da geração passada que sofre para poder rodar nas plataformas atuais.

Biomutant chega dia 25 de maio e está disponível para Xbox One (Series S/X via retrocompatibilidade), Playstation 4 (Playstation 5 via retrocompatibilidade) e PC.

 

Esta cópia do game foi gentilmente disponibilizada pela THQ Nordic para esta análise.