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Nikoderiko – The Magical World – Análise (PS5)

Eu lembro que ali pelos meus 8 ou 9 anos, eu tinha o hábito de juntar moedas em um cofrinho de plástico em formato de porco. Toda moeda que eu ganhava, não importasse o valor, acabava somando na quantia que tinha dentro daquele cofrinho. Quando eu conseguia uma quantia robusta (sei lá, uns R$40,00), o destino já era certo: bora ir ao CAMELÔ comprar um novo cartucho de Super Nintendo.

Foi numa dessas que, na tentativa de completar a trilogia Donkey Kong Country, eu adquiri aquele que seria um dos meus jogos de plataforma favoritos: Donkey Kong Country 2: Diddy’s Kong Quest. Um jogo que, acredito que dispensa qualquer apresentação. Trilha sonora impecável, gráficos ainda mais bonitos, em relação ao primeiro game, e uma jogabilidade muito redondinha e gostosa.

O tempo foi passando, e por alguma razão, os jogos de plataforma foram se tornando menos regulares e já apelando para um ambiente 3D. Mario passou por isso em Super Mario 64 e Crash Bandicoot trouxe novos ares para o gênero (ares esses, muitas vezes com cheiro de usina metalúrgica, vale dizer).

Então, em 2024 alguém teve uma ideia: e se Donkey Kong e Crash Bandicoot fizessem a fusão de Dragon Ball Z, o que resultaria disso? E eu respondo: Nikoderiko: The Magical World.

Eu tive o privilégio de poder jogar o game em antecipado nos últimos dias e trazer um pouco do que foi a minha experiência aqui nessa análise… Afinal, é isso que você espera de uma análise, certo?

Então pegue seu mapa e vamos descobrir se os mangustos (o que é um mangusto? Já, já eu te conto) fazem jus ao legado dos animais saltitantes que os precederam.

 

Um mundo mágico, cheio de aventuras

A primeira coisa que chama a atenção em Nikoderiko é o seu visual. Ele é um jogo extremamente colorido e convidativo para todas as idades. Ao iniciar nossa aventura, somos apresentados aos dois protagonistas: Niko e Luna.

Não fica muito claro se eles possuem alguma relação de parentesco ou se são uma espécie de casal, mas também… Pouco importa. Vamos ao que interessa! O jogo abre com uma cutscene mostrando nossos aventureiros chegando a uma grande ilha flutuante, com um grande rosto de mangusto esculpido na montanha (onde foi que eu já vi isso, hein?).

Pra quem não sabe, mangusto é uma espécie de mamífero parente dos suricatos (lembra do Timão, de “Timão e Pumba”? É tipo um primo dele). Eles são comumente encontrados no continente africano e são completamente imunes a venenos de cobra (guarde essa informação). Ele é oficialmente esse bichinho aqui da foto:

Sim, é esse bichinho que controlamos no game: UM MANGUSTO.

Após passarem por um templo repleto de armadilhas, Niko e Luna encontram um tesouro escondido, mas são interceptados pela horda dos Cobritos, que possuem aparência de cobras, mas com braços e pernas (não é por nada não…, mas difícil desassociar dos Kremlings de DKC) e são liderados pelo Barão Grimbald. Os vilões roubam o tesouro e Niko e Luna partem em uma jornada para resgatar o tesouro roubado e trazer paz novamente à ilha.

O jogo então nos transporta para o mapa da ilha e quanto mais avançamos, mais subimos. Ela é dividida em oito regiões que contém florestas, praias paradisíacas, pântanos, AS TEMIDAS FASES NO GELO, ambientes industriais, montanhas etc.

É praticamente impossível não olhar para cada um dos cenários – além da ilha como um todo – e não ligar automaticamente a trilogia Donkey Kong Country. Tanto na ambientação como em sua jogabilidade (que falarei mais para frente). O jogo funciona numa perspectiva 2.5D, já que a ação acontece principalmente num plano lateral, como os clássicos plataformas dos anos 90 e 2000. Porém, em alguns trechos ele assume uma câmera de frente, se transformando numa espécie de “Crash Bandicoot-like”, com alguns trechos até fazendo referência às clássicas fases de perseguição vistas no jogo do laranjão.

Em miúdos, Nikoderiko é uma grande carta de amor que a VEA Games escreveu para homenagear jogos que fizeram parte de uma geração.

 

Uma carta de amor

Até aqui, eu acho que você que está lendo já entendeu a proposta do game. E uma pergunta também deve ecoar pela sua cabeça: será que essa carta de amor aos clássicos plataformas se sustenta? E eu te respondo: sim e NÃO.

Sim, a jogabilidade de Nikoderiko é muito próxima dos jogos já exaustivamente citados acima. Mas isso NÃO PODE ser considerado um total mérito. Porque até mesmo o que tornava a jogabilidade um problema, permanecem. Eu não sei se isso foi apenas uma decisão dos desenvolvedores de simular algo da época ou se de fato o jogo tem esse problema (afinal, é bom lembrar que a versão que joguei foi antes do lançamento, e patches de correção podem surgir para corrigir isso, se for um problema).

Mas então, como o jogo funciona?

Nós podemos correr, andar, saltar, andar agachado, coletar objetos, segurar e arremessar itens, golpear os inimigos com uma investida no chão ou dando uma espécie de “carrinho”, e planar (esta última, me lembrou demais Alladin do Super Nintendo também). A jogabilidade tanto de Niko e Luna (que pode ser trocado na tela de mapa com o pressionar do botão triângulo) segue exatamente a mesma coisa. Eles não possuem nenhuma variação de ataques ou habilidades especiais, o que é uma pena quando pensamos no próprio DKC2, em que Diddy era mais rápido, e Dixie podia planar com seu cabelo.

Niko e Luna controlam praticamente iguais e podem trabalhar em conjunto – Imagem: Reprodução

Uma coisa bem legal é a possibilidade de jogar o game em co-op local, cada jogador assume um personagem e terão que trabalhar em conjunto para avançar na aventura e descobrir todos os segredos das fases e tentar coletar todos os itens.

Há também a possibilidade de contar com montarias em alguns trechos. Ao todo, são cinco aliados: um sapo que cospe bolas de fogo; um dinossauro que engole os oponentes e os arremessa (Yoshi, é você?); um morcego que pode voar e dispara rajadas supersônicas; um javali que destrói tudo em seu caminho e um cavalo marinho que pode disparar rajadas elétricas, para fases aquáticas.

Falando em coletar itens, as fases são compostas por 2 bônus que deverão ser encontrados escondidos pela fase e, em mais uma clara referência a Donkey Kong, as fases bônus são acessadas através de barris e devem ser coletados um número X de estrelas, encontrar as chaves ou derrotar todos os inimigos em um tempo determinado.

Podemos usar aliados para vencer os desafios das fases – Imagem: Reprodução.

Além disso, as letras que formam o nome NIKO também devem ser coletadas e encontradas, para atingir os 100%. Cada fase também conta com uma gema, que dará algo bem especial ao final do game (será que você é capaz de encontrar todas elas?).

Tudo aqui faz uma grande referência aos clássicos desenvolvidos pela Rare, e isso não se limita apenas a referenciar o jogo em si, mas até mesmo em sua trilha sonora, que foi composta pelo lendário David Wise, responsável pelas trilhas de Battletoads e Donkey Kong Country 1 e 2 (inclusive, em alguns trechos essa referência musical fica MUITO EVIDENTE – quem jogar, vai entender o que eu estou dizendo).

 

As cascas de banana no caminho

Sobre os problemas de Nikoderiko, eu acho que consigo sintetizar em uma única palavra: CADÊNCIA. Esse jogo tem uma montanha-russa de problemas relacionados a sua curva de dificuldade. A primeira fase apresenta todas as mecânicas que utilizaremos ao decorrer do jogo. Já na segunda fase, o desafio sobe consideravelmente, e com certeza falhas acontecerão.

Até aí, tudo bem. É ótimo que o jogo ofereça algum desafio e não seja um completo passeio no parque. O problema acontece quando esses problemas ocorrem junto de bugs dos mais variados tipos. Talvez o mais frustrante de todos é com relação a colisão de objetos e as constantes variações de hitbox (o campo de contato dos elementos do jogo). Não foi incomum acertar um inimigo e ele me causar dano, mesmo eu estando na animação de golpe, o que me deixou muito perdido em achar uma ÚNICA SOLUÇÃO para ultrapassar um obstáculo.

Outra coisa extremamente frustrante é a falta de cadência entre fases bônus e lutas contra chefes. Não foram poucas as vezes que eu estava em um bônus de coletar estrelas, e eu passei POR DENTRO DA ESTRELA QUE PRECISAVA SE COLETADA, e ela não contabilizou a coleta. Sem contar que alguns bônus eram muito bobos, e outros, eu tive que repetir no mínimo umas 20 vezes, por causa de falhas assim.

O tubarão está aprendendo a voar? – Imagem: Reprodução

Sobre os chefes, aqui também foi outro ponto totalmente sem cadência: alguns chefes não possuem desafio nenhum. Outros, tem um padrão de comportamento que surpreende – e até IRRITA. Só que a quantidade de vezes que houve bugs nos mais variados chefes foram além. Teve chefe que não registrava dano; chefe que atacava e não causava dano em mim; chefe que fazia um ataque e o ataque não acontecia, enfim. Teve de tudo um pouco aqui. Eu creio que isso pode ser facilmente corrigido com atualizações, mas foi uma experiência bastante desequilibrada.

 

Cobritos do mundo, UNI-VOS!

Um detalhe bem legal em Nikoderiko é que o game está com seus textos localizados em português. A tradução é bem ok, e o jogo é bastante literal em algumas delas. Por exemplo: o inimigo é um papagaio. Quando você coleta recursos das fases, pode trocá-los por baús que abrirão uma galeria com os nomes dos inimigos e personagens e lá vá estar o papagaio que você viu naquela fase e… O nome do inimigo é “papagaio”. Eu gosto quando os jogos brincam com algum trocadilho ou nome que faz uma brincadeira com aquele nome original.

Os inimigos principais, os Cobritos, tiveram uma adaptação até que legal para um jogo que também pode ser para o público infantil. E falando neles, uma coisa interessante é que ao chegar em alguns estágios, os personagens podem encontrar tanto aliados como inimigos e ter um diálogo, que vai dar uma complementada na história. Uma delas me chamou bastante a atenção, lá pelo final do jogo, em que você percebe que muitos dos Cobritos que trabalham para o Barão Grimbald, ou não gostam do trabalho por sentirem que são explorados de alguma forma, ou foram completamente cooptados por um discurso coach da prosperidade infinita, com direito até mesmo a “investe tanto aqui que você vai ter tantos porcento de retorno”. Eu achei esse detalhe bem interessante e que arranha uma crítica social foda.

Eu vou deixar alguns registros que fiz e que ilustram bem essa afirmação:

 

E o saldo?

Nicoderiko: The Magical World é uma ótima oportunidade de reviver o sentimento de jogar um bom jogo de plataforma. Ele tem referências e se sustenta bem em suas bases. Obviamente ele também tem problemas – alguns eu diria que bem graves -, mas nada que correções por atualizações não resolvam. Ele possui uma simplicidade e é uma ótima pedida para jogar com amigos e com crianças.
Não foram poucas as vezes que me vi, enquanto jogava, relembrando de jogos que me marcaram na infância. Ele faz um ótimo trabalho de referenciar aqueles que vieram antes e que deram as bases que o constroem. Apesar de alguns momentos de frustração por presenciar muitos bugs e problemas de gameplay, sai dele com um saldo bastante positivo e que me despertou memórias com Donkey Kong e (argh!) Crash Bandicoot.

Se você, assim como eu, tem bons momentos para relembrar de jogos de plataforma que te marcaram, Nikoderiko: The Magical World é a escolha perfeita! Além de tudo, o jogo é curtinho para quem apenas quem uma aventura honesta. Agora, se você é um complecionista de carteirinha, se prepare para o desafio. Você vai precisar de muita paciência (e treino) para coletar tudo o que o jogo oferece. Boa sorte, mangusto!

Esta cópia de Playstation 5 de Nikoderiko: The Magical World foi gentilmente cedida para a escrita dessa análise

Vinícius Vidal Rosa

Ex-técnico em informática, jornalista formado e apaixonado por games e tecnologia. Faz do seu tempo livre, uma maneira de levar informação e falar sobre o que gosta.

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Vinícius Vidal Rosa

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