Mario Kart World – Análise (Switch 2)

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Esta análise foi escrita por Felipe Oliveira.

O lançamento do Nintendo Switch 2 deu-se em meio a grandes expectativas, polêmicas e dúvidas – e, no cerne dessa questão, destacava-se o jogo que foi escolhido para ser lançado como bundle com o console: Mario Kart World. A celeuma foi devida à aparente qualidade do jogo, como visto nos eventos mostrados pela Nintendo (como na Nintendo Tree House dedicada ao MK), porém com um custo inédito, que se tornaria um novo “padrão” (ou alvo) para a indústria dos jogos eletrônicos desde então – o preço de 80 dólares (trazido a R$ 499,90 no Brasil pela Nintendo). Esse misto de sentimentos fez com que aumentasse a expectativa acerca do jogo. Em outras palavras: Mario Kart World justifica os 80 dólares?

O game já esteve presente e boa parte da história da Nintendo; e o Switch 2 não podia ficar de fora – Imagem: Reprodução.

A franquia e o seu peso

Mario Kart foi lançado originalmente em 1992, no SNES, com uma proposta inovadora na época. Ele trazia um jogo de corrida cartunesco (em contraste às tentativas de algo mais realista, dentro, ainda, das limitações dos hardwares da época), com power ups a serem obtidos ao longo das corridas e, como a cereja do bolo, trazendo personagens conhecidos das franquias da Nintendo, principalmente do universo de Super Mario. A fórmula deu certo, o que levou ao lançamento de sucessores da franquia em quase todas as plataformas da Big N doravante, com destaque à versão do Nintendo 64 (uma das mais populares) e a do Nintendo Wii U – com Mario Kart 8.

 

Com o fracasso do Wii U em vendas, o jogo, que trazia um aprimoramento da fórmula aos níveis, considerado por muitos, de excelência, ele foi relançado no Nintendo Switch em 2017 como Mario Kart 8 Deluxe. Justo à sua qualidade ímpar, tornou-se o jogo mais vendido do Switch, com mais de 68 milhões de cópias. Em outras palavras, quando somados os números de vendas do Mario Kart 8 (Wii U) e o Mario Kart 8 Deluxe (Switch), o jogo figura entre os 5 jogos mais vendidos da história. Percebem a grandiosidade da franquia – e o seu peso?}

Anúncio e recepção do Mario Kart World

Quando o Mario Kart World foi anunciado, a grande expectativa era: como melhorar uma franquia que já parecia ter atingido o seu auge? Um jogo apenas com gráficos aprimorados e novas pistas soaria como uma simples atualização – o que contrastava com a pretensa grandiosidade de um jogo lançamento de console. De acordo com os criadores do jogo (como disponível em entrevistas no próprio site da Nintendo), a ideia era acrescentar mecânicas novas, como pistas interligadas em corridas contínuas, um maior número de corredores e a implementação de um mundo aberto – sendo essa última um recurso que tem se tornado cada vez mais utilizado por estúdios para ampliar o universo dos seus jogos (nem sempre bem sucedidos).

 

Uma das principais críticas foi a mudança de preços da Nintendo – Imagem: Reprodução

As dúvidas ainda pairavam: o mudo aberto será atrativo e vivo ou cansativo e vazio? As pistas se manterão divertidas? As mecânicas e gráficos bastarão para olharmos para o jogo e reconhecermos nele uma “nova geração”?

 

Após o lançamento, as análises foram, em sua maioria, positivas – estando, no momento da produção desse texto, com notas 86 pela crítica e 7.1 pelos usuários do Metacritic. Todavia, ainda utilizando o parâmetro de notas, quando comparado ao seu antecessor, o Mario Kart 8 apresenta, respectivamente, 92 e 8.6.

Sabendo como os sistemas de avaliação por notas (encarnado através do Metacritic) podem ser falhos – seja por críticas infundadas, seja por um fanatismo blindado, é importante analisarmos os aspectos do jogo.

Gráfico e arte

 

O primeiro ponto quando falamos de gráfico é termos em mente qual a ideia de arte planejada pelos artistas que a produziram. Sabendo disso, jamais esperaremos um Mario Kart (assim como os diversos jogos do Mario ou Kirby) um realismo – isso é proposital e uma escolha artística. Passado desse ponto, o que temos em MK World é uma arte belíssima, com bom sistema de iluminação, efeito de chuva e grande expressividade dos personagens. Detalhes dos carros e dos corredores, as texturas dos cenários e profundidade (podendo enxergar, com nitidez, grandes distâncias) revelam um trabalho bem feito e dentro do esperado.

 

Um erro comum é o pensamento “não parece que evoluiu tanto em relação ao Mario Kart 8 Deluxe”. Sim, não foi um salto imenso. Porém, graficamente, um aprimoramento nos seus detalhes – mais uma vez, mantendo a decisão artística de um mundo e personagens cartunescos. Alia-se a isso, que estamos, agora, diante de um mundo aberto e com 24 corredores simultâneos, mantendo uma estabilidade de desempenho – o que seria impossível no Switch 1, de acordo com os criadores do jogo.

Desempenho no Switch 2

Falando em desempenho, o jogo roda em 60 fps – de forma fixa. Não vi comentários, tampouco notei em qualquer sessão, queda de frames ou redução da qualidade gráfica, mesmo em trechos com diversos corredores com power ups, sons misturados, NPCs e obstáculos na pista. Tudo isso acrescenta um conforto na jogabilidade, sem “engasgos” que quebrem a imersão. Todavia, há um “custo” para o ótimo desempenho: o consumo da bateria do Switch 2 (modo portátil) é alto, o que levará – de acordo com médias já ditas em fóruns e sites – a um tempo de vida de cerca de 2,5 horas de jogatina ininterrupta. Não que seja algo que se sobreponha ao ganho e ao que entrega o jogo – mas vale o destaque.

A gameplay

O jogo consta de 2 principais modos: os torneios e o modo eliminatório. Os torneiros são compostos por 4 corridas, sendo o campeão definido pela soma das pontuações adquiridas em cada competição. Simples assim!
O modo de eliminatória (ou o famoso modo knock out) ocorre com 4 corridas ininterruptas, sequenciadas, em que, os últimos colocados vão sendo eliminados – até que, na última etapa, sobrem 4 corredores, que disputarão o pódio. Trata-se de modo divertido – e estressante!

O jogo segue uma fórmula semelhante a de seus antecessores, mas adiciona novidades interessantes – Imagem: Reprodução

Esses modos podem ser jogados como um jogador, múltiplos jogadores locais (até 4) e multiplayer online – com até 24 competidores. No modo online, a famosa “sala de espera” que estava presente no Mario Kart 8 enquanto aguardava-se outros jogadores, foi substituída pelo mundo aberto, podendo, os jogadores que já estão online, explorarem até serem chamados para a próxima corrida. Um acréscimo que preenche o tempo de espera com algo mais divertido que os Mii na tela como na versão anterior.

 

Há ainda os modos de Batalha e Contra o Relógio. O primeiro, assim como nas versões anteriores, são competições com regras (p.e. estourar os balões presos aos karts dos adversários), afastando-se de uma simples corrida; o último é você contra o relógio – podendo correr contra o seu “fantasma” de tentativas anteriores.

 

O jogo em si tem controles bastante simples: você acelera, freia, dá ré, usa o drift, pula e usa um power up. Como inovação, você agora pode deslizar em algumas superfícies, como trilhos, corrimãos e fios de postes, assim como andar em paredes, de forma mais direta do que no MK 8 (em que você precisaria de uma rampa para “acessar” aquela parede) – o que dá a possibilidade de ganhar vantagens em corridas e fugir de ataques por algum momento.

 

Há também, de forma inédita, o modo rewind – apertando o d-pad para baixo em uma corrida, você “volta no tempo” enquanto o segura – não afetando os demais jogadores ou eventos que ocorrem em tempo real.

 

Foi acrescentado também um sistema de passagem do tempo, entre dia e noite, assim como de clima, com chuva e sol durante a gameplay. Por mais que não influencie muito a jogativa, traz um aspecto de imprevisibilidade, de correr a mesma pista em condições diferentes. É interessante!

 

O mundo aberto é, provavelmente, o que mais aguça a curiosidade dos jogadores que experimentam pela primeira vez o jogo. Quando se abre esse modo, é disponibilizado o mapa do “mundo”, podendo escolher alguns pontos para onde sair e iniciar a sua exploração. A partir daí, poderá se dirigir a qualquer lugar que quiser – desde visitar as pistas que existem nos modos competitivos, até  subir morros ou navegar por águas que, por vezes, serviam apenas como composição do cenário.

O modo “eliminação” é um dos mais divertidos e desafiadores do novo game – Imagem: Reprodução

Há, espalhados pelo mundo, as missões P – os famosos botões azuis (originalmente P switchs) presentes desd o Super Mário World. Uma vez acionados, somos levados a uma missão naquele mesmo cenário em que estamos. Pode ser cumprir um trecho em um tempo específico, fazer algumas voltas em um circuito, pegar moedas pelo cenário em um tempo determinado etc. Pode-se de dizer que são desafiadoras e divertidas – sendo muitas (mesmo!) espalhados pelo mundo, o que gerará horas para a compleição. Minha opinião é que as missões P são o que realmente nos motiva a visitar o mundo aberto – salve por explorar um ou outro cenário que são interessantes e que vemos durante as corridas. A questão é que essas missões não sustentam todo o modo. Dessa forma, nunca passo muito tempo fazendo esses desafios. É pouco – pouco para um mundo aberto grande e tão colorido como no MK.

 

Eu arriscaria que a Nintendo deve atualizar o jogo ao longo dos anos com adições a esse mundo, como NPCs interativos, missões novas e diferentes, eventos sazonais etc. Assim, manterá nossa curiosidade quanto a esse modo por muito tempo – fazendo jus à grandiosidade proposta.
Uma crítica, ainda falando da gameplay: não há o modo de corrida isolada. Ou seja, não podemos simplesmente escolher uma pista e jogá-la sem compromisso, para treinar ou apenas para passar o tempo. Para corrermos em um pista “avulsa”, só no mundo aberto, indo visitá-la (o que não será uma corrida em si) ou no modo Contra o Relógio. A impressão é que os desenvolvedores imaginaram que já haviam deixado uma miríade de possibilidades de modos de jogo – incluindo um mundo aberto – e que não haveria mais a necessidade desse modo. Ledo engano.

 

Trilha e efeitos sonoros

São MUITAS músicas ao longo do jogo – com mais de 200 faixas. Seja no mundo aberto, nas corridas, com mudanças frequentes. A qualidade, como já é típico da franquia, é excelente, inclusive com alguns remixes de músicas de jogos anteriores, como do Mario Kart original do SNES. Os efeitos sonoros apresentaram uma melhor qualidade – ainda que se mantenham parecidos com o que já vinham sendo produzidos. Mas sons como o ronco dos motores ganharam mais relevância e detalhes do que nos antecessores.

 

Mas então…vale os 499 reais?

De forma geral, é um jogo muito divertido, que trará entretenimento por muitas horas – seja em modo singleplayer, multijogador local ou online, com um mundo aberto amplo e com dezenas de missões a serem cumpridas. Sem dúvida, um jogo de altíssimo nível e sendo uma evolução que ninguém havia imaginado, até o seu anúncio, da franquia.

 

Mas, como todo produto, além do valor de uso (descrito acima), temos o valor de troca – e o preço. Assim, quando colocamos o jogo e suas diversas novidades, pistas, qualidades e tempo de uso no valor em que é vendido, acaba ficando uma sensação de incongruência.

 

Não, Mario Kart World não vale o seu preço de R$ 499,90 – assim como nenhum jogo vale, na minha opinião. A expectativa que se cria quando, ao anunciar um possível best seller, é revelado um valor até então não praticado pela indústria (sim, já tivemos jogos mais caros, mas normalmente em edições deluxe, pacotes com múltiplos jogos, ou edições especiais), a expectativa é que o valor de uso acompanhe o ajuste. Assim, ou seria entregue algo extraordinário, inédito ou uma obra-prima – ou simplesmente os consumidores não aceitariam. E aqui não digo “aceitar” como comprar. O jogo, por vir em bundle com o novo console, tem sido uma opção mais em conta, custando (ainda absurdos) R$ 399,90. Tanto por isso tem sido adquirido com frequência entre os fãs (ou por aqueles desejos por mídia física, pagando o preço cheio).

 

As corrida continuam frenéticas…. Mas a que preço? R$499,00 – Imagem: Reprodução

 

Mas voltando: os consumidores “não aceitaram” bem o jogo. É difícil, compreendo, julgar um jogo dissociando-o do seu preço pago. Um jogo medíocre, mas barato, é visto como algo aceitável, afinal, por mais que não seja a melhor das experiências, pode divertir a um preço baixo. Entretanto, um jogo caro sempre será julgado com a pretensão de justificar o seu preço – esse é o caso do Mario Kart World.

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Dito isso, meu veredito é: o MK World é um jogo excelente, divertido, com inovações bem vindas, mantendo uma arte linda e músicas cativantes. Há o que ser melhorado – o que, creio, virá sob formas de atualizações. Porém, nada justifica o valor exorbitante cobrado pela Nintendo – nada. Sugestão: ou adquira no bundle, se é um fã, pagando menos; ou se não for muito o seu estilo, direcione o seu dinheiro para jogos mais voltados ao seu gosto. Pagar o valor cheio, até então, é algo injustificável.