Esta análise foi escrita por Felipe Oliveira.
O lançamento do Nintendo Switch 2 deu-se em meio a grandes expectativas, polêmicas e dúvidas – e, no cerne dessa questão, destacava-se o jogo que foi escolhido para ser lançado como bundle com o console: Mario Kart World. A celeuma foi devida à aparente qualidade do jogo, como visto nos eventos mostrados pela Nintendo (como na Nintendo Tree House dedicada ao MK), porém com um custo inédito, que se tornaria um novo “padrão” (ou alvo) para a indústria dos jogos eletrônicos desde então – o preço de 80 dólares (trazido a R$ 499,90 no Brasil pela Nintendo). Esse misto de sentimentos fez com que aumentasse a expectativa acerca do jogo. Em outras palavras: Mario Kart World justifica os 80 dólares?

O game já esteve presente e boa parte da história da Nintendo; e o Switch 2 não podia ficar de fora – Imagem: Reprodução.
A franquia e o seu peso
Com o fracasso do Wii U em vendas, o jogo, que trazia um aprimoramento da fórmula aos níveis, considerado por muitos, de excelência, ele foi relançado no Nintendo Switch em 2017 como Mario Kart 8 Deluxe. Justo à sua qualidade ímpar, tornou-se o jogo mais vendido do Switch, com mais de 68 milhões de cópias. Em outras palavras, quando somados os números de vendas do Mario Kart 8 (Wii U) e o Mario Kart 8 Deluxe (Switch), o jogo figura entre os 5 jogos mais vendidos da história. Percebem a grandiosidade da franquia – e o seu peso?}
Anúncio e recepção do Mario Kart World
Após o lançamento, as análises foram, em sua maioria, positivas – estando, no momento da produção desse texto, com notas 86 pela crítica e 7.1 pelos usuários do Metacritic. Todavia, ainda utilizando o parâmetro de notas, quando comparado ao seu antecessor, o Mario Kart 8 apresenta, respectivamente, 92 e 8.6.
Gráfico e arte
O primeiro ponto quando falamos de gráfico é termos em mente qual a ideia de arte planejada pelos artistas que a produziram. Sabendo disso, jamais esperaremos um Mario Kart (assim como os diversos jogos do Mario ou Kirby) um realismo – isso é proposital e uma escolha artística. Passado desse ponto, o que temos em MK World é uma arte belíssima, com bom sistema de iluminação, efeito de chuva e grande expressividade dos personagens. Detalhes dos carros e dos corredores, as texturas dos cenários e profundidade (podendo enxergar, com nitidez, grandes distâncias) revelam um trabalho bem feito e dentro do esperado.
Um erro comum é o pensamento “não parece que evoluiu tanto em relação ao Mario Kart 8 Deluxe”. Sim, não foi um salto imenso. Porém, graficamente, um aprimoramento nos seus detalhes – mais uma vez, mantendo a decisão artística de um mundo e personagens cartunescos. Alia-se a isso, que estamos, agora, diante de um mundo aberto e com 24 corredores simultâneos, mantendo uma estabilidade de desempenho – o que seria impossível no Switch 1, de acordo com os criadores do jogo.
Desempenho no Switch 2
A gameplay
Esses modos podem ser jogados como um jogador, múltiplos jogadores locais (até 4) e multiplayer online – com até 24 competidores. No modo online, a famosa “sala de espera” que estava presente no Mario Kart 8 enquanto aguardava-se outros jogadores, foi substituída pelo mundo aberto, podendo, os jogadores que já estão online, explorarem até serem chamados para a próxima corrida. Um acréscimo que preenche o tempo de espera com algo mais divertido que os Mii na tela como na versão anterior.
Há ainda os modos de Batalha e Contra o Relógio. O primeiro, assim como nas versões anteriores, são competições com regras (p.e. estourar os balões presos aos karts dos adversários), afastando-se de uma simples corrida; o último é você contra o relógio – podendo correr contra o seu “fantasma” de tentativas anteriores.
O jogo em si tem controles bastante simples: você acelera, freia, dá ré, usa o drift, pula e usa um power up. Como inovação, você agora pode deslizar em algumas superfícies, como trilhos, corrimãos e fios de postes, assim como andar em paredes, de forma mais direta do que no MK 8 (em que você precisaria de uma rampa para “acessar” aquela parede) – o que dá a possibilidade de ganhar vantagens em corridas e fugir de ataques por algum momento.
Há também, de forma inédita, o modo rewind – apertando o d-pad para baixo em uma corrida, você “volta no tempo” enquanto o segura – não afetando os demais jogadores ou eventos que ocorrem em tempo real.
Foi acrescentado também um sistema de passagem do tempo, entre dia e noite, assim como de clima, com chuva e sol durante a gameplay. Por mais que não influencie muito a jogativa, traz um aspecto de imprevisibilidade, de correr a mesma pista em condições diferentes. É interessante!
Trilha e efeitos sonoros
Mas então…vale os 499 reais?
Mas, como todo produto, além do valor de uso (descrito acima), temos o valor de troca – e o preço. Assim, quando colocamos o jogo e suas diversas novidades, pistas, qualidades e tempo de uso no valor em que é vendido, acaba ficando uma sensação de incongruência.
Não, Mario Kart World não vale o seu preço de R$ 499,90 – assim como nenhum jogo vale, na minha opinião. A expectativa que se cria quando, ao anunciar um possível best seller, é revelado um valor até então não praticado pela indústria (sim, já tivemos jogos mais caros, mas normalmente em edições deluxe, pacotes com múltiplos jogos, ou edições especiais), a expectativa é que o valor de uso acompanhe o ajuste. Assim, ou seria entregue algo extraordinário, inédito ou uma obra-prima – ou simplesmente os consumidores não aceitariam. E aqui não digo “aceitar” como comprar. O jogo, por vir em bundle com o novo console, tem sido uma opção mais em conta, custando (ainda absurdos) R$ 399,90. Tanto por isso tem sido adquirido com frequência entre os fãs (ou por aqueles desejos por mídia física, pagando o preço cheio).
Mas voltando: os consumidores “não aceitaram” bem o jogo. É difícil, compreendo, julgar um jogo dissociando-o do seu preço pago. Um jogo medíocre, mas barato, é visto como algo aceitável, afinal, por mais que não seja a melhor das experiências, pode divertir a um preço baixo. Entretanto, um jogo caro sempre será julgado com a pretensão de justificar o seu preço – esse é o caso do Mario Kart World.
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Dito isso, meu veredito é: o MK World é um jogo excelente, divertido, com inovações bem vindas, mantendo uma arte linda e músicas cativantes. Há o que ser melhorado – o que, creio, virá sob formas de atualizações. Porém, nada justifica o valor exorbitante cobrado pela Nintendo – nada. Sugestão: ou adquira no bundle, se é um fã, pagando menos; ou se não for muito o seu estilo, direcione o seu dinheiro para jogos mais voltados ao seu gosto. Pagar o valor cheio, até então, é algo injustificável.




