Quando eu vi Indika pela primeira vez, eu achei uma proposta interessante e ousada: um jogo sobre uma freira que parece ter algum tipo de distúrbio psicológico, num período em que isso sequer era uma condição válida – mas sim uma ação do demônio. Não demorou muito para o game capturar minha atenção e meu interesse em jogar.
Mas o tempo – e os compromissos com outros jogos – acabaram me deixando alheio à experiência de jogar Indika próximo ao seu lançamento original, no meio de 2024. Agora, no fim de 2025, consegui colocar as mãos na versão de Nintendo Switch que sai em 17 de novembro, e eu tenho um misto de sentimentos com esse jogo que eu queria partilhar com vocês.
Essa será a minha confissão: Indika é um jogo para se ter cautela. E eu explico nessa pequena confissão em forma de análise.
Uma proposta diferente – interessante, mas falha
Acho que a primeira coisa que eu queria abordar nessa análise é que eu não tenho uma definição sobre gostar ou não de Indika. Ele é um jogo bem único, eu diria. Ambicioso, para ser um pouco mais ousado nos termos. Mas ainda assim, com diversas falhas.
Eu não sei muito sobre como a versão de PC e de outros consoles se comporta, afinal estamos falando de um jogo feito na problemática Unreal Engine 5.
E eu já queria tirar uma coisa do caminho logo de cara: a versão de Nintendo Switch é a PIOR VERSÃO desse game. Seja em questão de desempenho, seja em questão gráfica, essa é a pior opção para você conhecer esse game. Falarei disso melhor depois.
Indika inicia mostrando uma Rússia pré-revolução de 1917, em uma versão meio alternativa da nossa realidade. Ali, somos transportados para um convento e ali conhecemos nossa protagonista: Indika. Ela é uma jovem freira não muito bem quista por suas “colegas”, que sempre a tratam mal e humilham a pobre coitada.
A jovem freira possui algumas particularidades que irritam as demais: ela tem sempre uma postura muito bondosa, porém ela também é muito imprevisível por um detalhe: além de ver coisas estranhas – e quando eu falo estranhas, é do tipo uma versão miniatura de uma freira com roupas de baixo saindo da própria boca -, Indika também ouve a voz do próprio Diabo em seu subconsciente, que questiona, que trapaceia e ri da pobre coitada.

O game tem uma proposta narrativa interessante, mas peca em aspectos técnicos e mecânicas – Imagem: Reprodução
No intuito de se livrarem dela, ela é escolhida para levar uma carta até um padre. E aqui começa uma jornada de autoconhecimento e surrealismo com Indika, e seu parceiro Diabo, que travam debates bem interessantes ao longo dessa jornada, até que eles topam com Ilya, um prisioneiro que conseguiu escapar, mas está gravemente ferido em seu braço.
Os “três” então embarcam numa viagem não apenas em busca de um milagre para suas feridas físicas, mas também numa jornada de questões pertinentes sobre fé, humanidade e sentimentos.
Eu digo sem medo de errar que a melhor coisa que esse game oferece são esses momentos de diálogos entre os personagens e as questões que são postas nestes. Realmente, toda a parte narrativa de Indika é o ponto alto desse game. E o melhor: é um jogo relativamente curto. Em uma primeira jogada, é capaz de concluí-lo em umas 3 horas. Esse tempo pode ser facilmente cortado pela metade se você já souber o que fazer.
Porém, eu também digo sem medo de errar que a versão de Switch acaba sendo um problema, pois não é incomum algumas linhas de diálogos serem cortadas, caso você pause o game num momento de diálogo, fazendo as legendas simplesmente sumirem do mapa.
Se você optou por jogar o game em russo, para uma maior imersão, eu espero que você esteja com seu curso de línguas em dia, pois é muito frustrante você estar imerso em um diálogo, e a legenda sumir. Mas este é apenas o início de uma série de problemas.
A gamificação da fé
Existe um aspecto interessante nesse game que é: há apenas um contador de pontos no canto da tela. Conforme você cumpre certas ações, esse contador aumenta e é possível você fazer uma espécie de evolução da personagem.
No entanto, essa evolução é um tanto inútil quando você para e analisa a proposta do jogo. Toda a evolução se baseia em fazer uma pontuação maior ou imediata. E isso abre margem para uma questão: o quanto da nossa fé – ou a falta dela – é uma “mecânica gamificada”? Porque pensa: você é uma pessoa com livre-arbítrio e ações ruins contam para sua aposentadoria no inferno. Ações boas, te aproximam do paraíso.

Há trechos em que as memórias de Indika assumem um visual 16-bits, totalmente gamificado – Imagem: Reprodução.
Existe uma lógica sobre isso e o jogo mesmo repete constantemente “não junte pontos, eles não servem para nada”. E de fato, em termos de mecânica, eles não servem para nada, além de uma satisfação pessoal de acender velas em altares e coletar relíquias religiosas espalhadas pelos mapas. Isso serve apenas para que o JOGADOR sinta uma satisfação em fazê-lo. Nada além.
Será que isso se reflete também em como a religião e a fé operam? Essa é uma das questões que o game traz de maneira subtextual.
O jogo que queria ser filme
Uma coisa que eu me peguei questionando sobre Indika é sobre a sua intenção. Ele é um jogo simples. Ele tem puzzles simples, uma exploração simples, uma jogabilidade simples. Não existe combate aqui – a não ser contra sua própria consciência e seus próprios demônios.
Tudo o que é possível fazer aqui são ações preestabelecidas, além de um botão para rezar, quando o mundo parece ruir e levar a freira até as bordas do inferno. Nem mesmo interagir com NPCs, quando os vemos, é possível.
Então, eu fiquei me questionando se de fato esse jogo quer ser um jogo ou se ele tinha a intenção de ser algo mais. Não foram poucas as vezes que eu pensei se eu estava jogando algo pensado pelo diretor grego Yorgos Lanthimos, de “Pobres Criaturas” e “O Lagosta”, ou até mesmo algo próximo de Robert Eggers, de “O Farol” e a nova leitura de “Nosferatu”.
Fato é que Indika tem uma forte narrativa, somada a uma gameplay pobre. E esse problema se agrava bastante na versão de Switch, visto que parece que estamos jogando algo da era Playstation 3, em termos técnicos. É uma versão que sofre muito com a falta de recursos de hardware do console, e o que já era fraco, pode ficar ainda mais, dependendo do quão exigente você for.
Desempenho sofrível nas suas mãos
Como eu disse, dentre todas as opções para se jogar Indika, a versão de Nintendo Switch é de longe a pior delas. O jogo tem diversas limitações gráficas, quedas de quadros, imagem completamente desfocada e todos os personagens parecem bonecos de papelão durante a gameplay.
No entanto, ele fica um pouco melhor durante as cutscenes. Provavelmente por ser algo já pré-renderizado, que força menos o console. Ao longo dessa análise, você pode conferir um pouco das imagens que eu tirei enquanto jogava. Eu não sei se o game ganha um visual menos datado na versão de Switch 2, mas o ponto é que quem esperava jogar esse game de uma forma mais confortável, certamente vai se frustrar muito com a versão portátil.
…E o saldo é?
Indika é um game com uma boa narrativa e ótimos questionamentos, mas ele peca – com o perdão da palavra – gravemente em ser um JOGO. Seja por uma gameplay simples, seja por puzzles desinteressantes, a proposta aqui é você concluir esse jogo e ficar martelando as mensagens.
Como uma experiência narrativa, eu acho que ele funciona muito bem. Como jogo… Eu não sei se consigo recomendá-lo. Pelo menos não a versão do Switch, essa eu garanto a você que está lendo que, dentre todas as formas possíveis de se experienciar Indika, essa é de longe a pior escolha.
Apesar de ser um milagre – mais uma vez, sem trocadilhos – esse jogo rodar no Switch, ele sofre com muitos problemas técnicos que tiram completamente a imersão do game. Seja por problemas em legendas, seja com um desempenho sofrível, seja por um visual bastante datado.
Eu espero que ele ainda passe por atualizações que tornem essa versão um pouco melhor. Porém, não há milagre – enfim – que possa ser feito aqui.
Esta cópia de Indika para Nintendo Switch foi gentilmente cedida para a produção desta análise.



