Quando eu vi o primeiro trailer de Cronos: The New Dawn, logo me veio à mente que esse jogo seria um retorno espiritual de Dead Space: câmera sobre o ombro, ambientes claustrofóbicos e monstros grotescos que te pegariam de surpresa pelos arredores dos ambientes.
Porém, conforme o jogo foi passando, eu entendi que entre o que Dead Space foi e o que Cronos é, existe uma lacuna imensa. Por um lado, isso é bom, porque dá uma autenticidade própria para o projeto da Bloober Team. Já por outro, algumas expectativas foram frustradas. E é sobre isso que vamos falar aqui hoje.
Pegue sua âncora, ajuste as coordenadas e vem comigo passear por essa Polônia socialista para descobrir o que faz de Cronos: The New Dawn tão… Tão… Ah, bora pra análise!
Uma viagem para consertar o futuro
A premissa de Cronos é bem simples: nossa aventura começa assumindo o papel d’A Viajante – e sim, para o gamer médio que DETESTA protagonismo feminino, nós jogamos com uma mulher. Começou a lagrimação! -. Ela faz parte de uma misteriosa organização chamada O Coletivo, que faz incursões no espaço-tempo e retorna até a Polônia dos anos 1980 para tentar parar uma ameaça chamada “A Mutação”, que transformou boa parte dos seres humanos em criaturas horrendas, conhecidas como “Órfãos”.
Nosso objetivo é encontrar Edward Wiśniewski, pois ele possui as informações que queremos do quê desencadeou o surto d’A Mutação. Porém, com o passar do jogo, descobrimos notas de textos, áudios gravados e outros personagens que vão tornando a trama ainda mais intrigante.
A história é ampliada por notas de texto, documentos e até mesmo pelo próprio cenário, que vai mostrando um pouco do que foi aquela sociedade antes dos eventos d’A Mutação. E claro, você tem o poder de decisão de querer se inteirar mais sobre esse universo e sobre os eventos que se sucederam ali. Quanto mais você explora o game, mais coisas serão reveladas sobre o pano de fundo dessa aventura retro-futurista.
Parece Dead Space, mas lembra mais Resident Evil 1
Eu queria começar essa análise dizendo que eu tive alguns problemas com esse game. E num geral, eu achei ele um bom jogo de ação. Porém, eu tinha algumas expectativas com ele, e ao longo da minha jornada de mais de 25 horas, elas foram sendo quebradas.
A primeira delas é que a viagem no tempo não é uma exclusividade da história do jogo, mas a própria gameplay em si parece ter viajado junto com A Viajante para momentos em que os jogos eram mais rudimentares. Digo isso porque me parece um tanto estranho em 2025 você ter um botão unicamente para carregar suas armas, sem a possibilidade de fazer isso ao tentar atirar.
Eu não me lembro quando foi a última vez que eu joguei um jogo em que havia um botão exclusivamente feito para tal finalidade e que te coloca em situações complicadas, dependendo da sua habilidade e memória muscular. Não foram poucas as vezes que eu me embananei com os controles, por esquecer que a personagem só carrega a munição quando você pressiona o botão para tal ação.

No jogo, precisamos encontrar pessoas para entender o que desencadeou “A Mutação” – Imagem: reprodução
Outra coisa que me pegou muito de surpresa nesse game foi a dificuldade. O jogo possui uma dificuldade padrão, sem a possibilidade de mudança. Quando eu encontrei o primeiro inimigo do jogo, eu morri tranquilamente umas 3 vezes nele, porque praticamente todos os inimigos aqui são esponjas de bala, se você tentar focar em tiros que não sejam carregados.
No entanto, carregar um tiro exige um pouco mais de tempo e isso pode dar abertura para que os inimigos te ataquem e isso tem um custo muito alto. A dica é: tiro carregado na cabeça é a maneira mais efetiva contra os monstros.
Ainda sobre o combate, vale ressaltar que devida a dificuldade mais elevada do jogo, os recursos que encontramos são escassos. Não foram poucas as vezes que eu me vi numa arena com múltiplos inimigos, torcendo para que eles dropassem munição e itens de cura, e nada veio. Cara, isso é frustrante porque assim como em Dead Space, A Viajante em Cronos possui ataques corpo-a-corpo: um soco e um pisão… Que não servem para nada além de abrir caminho e quebrar caixas com – ou sem – itens espalhados pelo cenário.
Uma coisa interessante aqui é o comportamento dos inimigos: ao eliminá-los, os corpos ficam espalhados pelo cenário e você precisa queimá-los para que outros inimigos não consumam os cadáveres e acabem se tornando obstáculos. Cada vez que um inimigo absorve um corpo, ele se torna mais forte e mais recursos serão precisos para dar cabo deles. Então, garanta que você sempre tenha em estoque um lança-chamas para evitar essas necro-evoluções.
Após um tempo, eu percebi que Cronos não tinha nenhuma pretensão de ser um sucessor de Dead Space, porque algumas qualidades de vida já estavam lá, em 2008, com o jogo original. Cronos tem mais a ambição de ser um survival horror da velha guarda, como um Resident Evil 1, com uma jogabilidade mais truncada e obtusa, criando um desespero no jogador não tanto pela sua ambientação, mas por uma jogabilidade que rememora survivals clássicos.
Synthwave e socialismo decadente
A trilha sonora de Cronos se faz mais presente em momentos de tensão, contra inimigos e em cutscenes. Majoritariamente, ela evoca aquele synthwave oitentista à lá Stranger Things. Ela é uma trilha sonora interessante, que casa muito bem com a ambientação e que conversa muito com a temporalidade em que o jogo se passa.
Apesar de boa, ela ficou menos comigo do que a trilha sonora de Hell is Us – que também tem análise aqui no site –, que também usa muito esse estilo musical, mas é uma trilha mais presente que em Cronos.
Obviamente que a ambientação de terror pede momentos de silêncio para que a quebra dele seja mais impactante, seja com um susto, seja com algum inimigo te pegando desprevenido.
Sobre a ambientação, a “Nova Alvorada” do título é baseada em um bairro de Cracóvia, chamado “Nowa Huta” (Nova Siderúrgica, em tradução direta), marcado por uma arquitetura brutalista da época em que a região estava sob a tutela do socialismo. No game, a arquitetura foi mantida.
Porém, é sempre um clichê, seja no cinema ou nos videogames, você ver esse tipo de organização social sob uma ótica decadente. Tudo foi destruído, os cenários são sempre aquele cinza triste e a vida parece que ainda não floresceu sob o desabrochar da realidade capitalista.
E honestamente? Esse tipo de abordagem já é tão batido que eu nem consigo me surpreender mais. Quando anunciam um jogo com esse tipo de ambientação, numa realidade soviética, a primeira coisa que eu penso é: “OK… Qual vai ser o clichê da vez?”.
É sabido que a Polônia nunca integrou o bloco socialista como a Ucrânia, por exemplo. Mas ela sofreu uma forte influência, principalmente no pós-Segunda Guerra e a libertação de prisioneiros dos campos de concentração – sobretudo os de Treblinka e Auschwitz. E sim, a gente precisa fazer uma crítica à URSS da década de 80, que foi justamente quando os problemas de intervencionismo interno começaram a surgir.
É compreensível que haja uma crítica a essa realidade de uma realidade soviética decadente deste período, porém o jogo se ancora muito nessa ideia de que “o coletivo é algo ruim”, e que é monstruosa a ideia de unidade do ser humano como uma massa. Sabe? Eu até esperaria uma crítica mais inteligente por parte dos desenvolvedores, e sei que eles são capazes disso.
No entanto, isso parece muito uma escrita adolescente que repudia qualquer ideia socialista, e deve se achar muito inteligentão de Reddit ao fazer esse link entre a temática do jogo e esse tipo de mensagem. No fim, só soa bem bobo mesmo. E eu não estou aqui dizendo que não houve problemas. Não é esse o ponto. Porém, acho que há maneiras mais válidas de fazer essa crítica sem soar dessa forma, ou tornar essa crítica mais interessante.
Menos é mais
Cronos não me parece um jogo extremamente ambicioso. Ele tem seus méritos e seus defeitos. Infelizmente, da metade para o final eu senti que o jogo assumiu o papel daquela Pepsi de 2 litros, que chega na metade e acaba o gás, sabe?
Penso que 25h para um jogo de terror, é um tempo relativamente extenso e que pode fazer com que a experiência que deveria ser mais pontual, tenha uma gordura saturada. O grande problema desse tempo é que, como falei mais acima, a quantidade limitada de recursos vai fazer você ficar preso em certos trechos.
Não foi incomum eu passar trinta minutos, às vezes até mais, em trechos de combate porque eu não tinha mais opções de arsenal numa arena que, para avançar, eu obrigatoriamente tinha que vencer a horda de inimigos.

O jogo conta com um arsenal variado, mas isso não tornará sua jornada menos árdua – Imagem: Reprodução.
Eu não tenho problema nenhum com jogos longos. Se a proposta me agradar, às vezes eu nem sinto o tempo passar, porque o jogo me ganhou no engajamento. O exemplo mais recente é Hell is Us. Eu passei mais de 30 horas nesse game e eu nem sentia o tempo passar, porque eu estava tão imerso nessa história, nesse universo, que foi uma das melhores experiências do ano para mim.
Cronos, no entanto, me ganhou no início, e foi me perdendo aos poucos. Eu começava a jogá-lo e por vezes, depois de 1 hora, 2 horas, eu já me sentia cansado com ele. Por isso que eu penso que aquela máxima de “menos é mais”, aqui, seria uma grande vitória.
Performance ruim até em PCs poderosos
Eu não tenho um PC high-end. Tenho uma configuração bem modesta, mas capaz de rodar o que eu quero jogar em 2025. Mas Cronos me surpreendeu que sua performance está ruim até mesmo em placas da série 50 da NVIDIA.
Essa foi a primeira vez que eu me rendi a uma modificação em um jogo para melhorar a performance da Unreal Engine 5, visto que esse motor gráfico está COMENDO PERFORMANCE com farofa e vinagrete até mesmo em que investiu um dinheiro pesado em deixar seu computador preparado para o que vem por aí.
Entusiastas de FPS que optarem pela versão de PC, prepare-se: stutterings e queda de quadros serão frequentes. Além de que não é incomum ver algumas anomalias brotando aqui e ali. Alguns patchs já foram lançados até a data de publicação dessa análise, mas as correções ainda não impactaram positivamente quem tem configurações recomendadas para rodar o jogo com folga.
E o saldo é…?
Se eu pudesse resumir Cronos: The New Dawn em uma palavra, esta seria “frustração”. Infelizmente o jogo possui problemas de cadência de gameplay, mecânicas obtusas e uma história pouco impactante.
Ele é um bom game de ação, mas enquanto eu jogava, os defeitos ficaram mais evidentes do que as virtudes. Infelizmente, acho que a Bloober Team tinha uma ótima ideia na cabeça, mas a execução desta deixa a desejar.
Se você gosta desse tipo de jogo, aguarde uma promoção e experimente Cronos. Não paute suas impressões apenas na minha crítica. Agora, saiba que o que você vai jogar aqui não é Dead Space.
Em um jogo cuja temática principal é o tempo, eu penso que existe duas máximas sobre esse bem tão precioso: investir e gastar. E eu sinto que meu tempo com Cronos: The New Dawn começou com um investimento e se tornou um gasto. E o tempo gasto não pode ser recuperado… Não na vida real.
Esta cópia de Cronos: The New Dawn foi gentilmente cedida pela assessoria da Theogames para a produção desta análise.


