Se Beavis e Butt-Head criaram o conceito de analisar clipes da MTV dos anos 90, certamente James Rolfe e seu personagem, o Angry Videogame Nerd (ou “O Nerd Revoltado dos Videogames, numa tradução bem ruim) criou o conceito de uma vídeo-análise muito antes do Youtube e de outras plataformas de vídeo como temos hoje em dia.
A proposta era simples: pegar jogos ruins do passado, sobretudo da era do Nintendinho – tanto é que no início o personagem se chamada “Angry Nintendo Nerd”, mas como a Nintendo não tem muito apreço por fãs que usam qualquer propriedade da companhia, ele recebeu uma cartinha de “cease and desist” mais tarde – e analisá-los do porquê eles eram ruins.

James Rolfe vive “O Nerd”, um cara de meia idade completamente revoltado com a forma como os videogames eram feitos – Imagem: Reprodução.
Depois de mais de 20 anos de existência e dois jogos lançados baseados em toda a lore construída pelo personagem, o AVGN retorna em mais um jogo, dessa vez numa aventura completa em 8 bits, saudando os primórdios e levando o jogador ao passado para jogar jogos de merda.
Quer saber por que Angry Video Game Nerd: 8 Bit é um excelente jogo ruim? Então embarque comigo nesse poço de cocô pixelado e vamos nessa!
Ele vai te levar ao passado
A primeira coisa que eu gostaria de fazer é tirar um elefante da sala e quebrar um protocolo aqui: sim, eu vou usar alguns palavrões durante essa análise, até mesmo para manter o teor do personagem do Nerd.
Para quem não conhece, basicamente o Nerd aqui é um cara já calvo, que bebe cerveja enquanto reclama de jogos que ele jogou na infância, mas que são um tremendo pedaço de lixo. Tudo isso enquanto coisas extraordinárias e interações com personagens pra lá de esquisitos acontece.
E, apesar de falar assim, os episódios rolam e a análise desses jogos é feita durante esse percurso. Parece confuso, mas eu recomendo que vocês deem uma olhada no trabalho do James Rolfe no canal “Cinemassacre”, pois ele não se limita a falar apenas de games, mas também de filmes – inclusive, foi um dos canais que fez um especial de Halloween há alguns anos, falando sobre a obra de “Zé do Caixão” – ou “Joe Coffin”, como ficou conhecido lá fora.
Bom, retomando a nossa análise: É mais um dia normal na vida do Nerd, escolhendo algum jogo cagado para jogar. Durante sua escolha, um estrondo rompe sua parede e dela sai um dos personagens mais icônicos da série AVGN: O Super Mecha Death Christ 2000 B.C 4.0 Beta (Ou Super Jesus Robô Mortífero 2000 A.C 4.0 Beta), que é basicamente um Jesus Cristo robotizado com corpo de tanque e equipado com metralhadoras e lanças-mísseis e que tem um vocabulário limitado a “FILHO DA PUTA!” – Tá, eu sei… Muitas perguntas… Mas vai lendo!
Após notar que o robozão está agindo estranho, Nerd tenta revidar com sua arma laser em formato de bazuca do SNES, mas falha miseravelmente. Super Jesus Robô então infecta o Nintendinho de Nerd, que assume uma nova forma e corrompe todos os sistemas de videogame do planeta.
Nerd então precisa invocar o poder dos seis jogos mais merda que já analisou em todo esse tempo e, com seus poderes de coliformes fecais, cria o AVGN 8 Bit, uma versão do seu próprio jogo para que assim, possa enfrentar Super Jesus Robô e pôr um fim a sua ameaça.
Tá, eu sei… Você deve ter muitas perguntas sobre isso… Mas assim, confia que vai dar bom, tá? Só CONFIA!
Jogando jogos DE MERDA!
Como eu disse, Nerd precisou invocar os poderes de alguns jogos bem ruins que já apareceram em suas análises. Alguns clássicos como “Jekyll and Hyde”, “Fester’s Quest”, “E.T” de Atari, Pepsiman (que aqui tem outro nome por questões de direitos autorais, creio eu) de PSone, e há também fases inspiradas em personagens que aparecem ao longo da série, como O Diabo.

Temos seis estágios. Porém, o baixo número de fases não quer dizer que será uma aventura fácil – Imagem: Reprodução.
O jogo todo funciona como um Mega Man clássico: você tem uma tela de seleção ABSOLUTAMENTE NADA A VER COM MEGA MAN, pois é só uma grande coincidência, e pode selecionar para onde quer ir.
Cada fase tem um tema bem específico, com monstros específicos, como por exemplo na fase do Pepsiman, que acontece numa fábrica de refrigerantes tomada por robôs que EM NADA SE PARECEM como os vistos em “O Exterminador do Futuro”, ou então na fase d’O Diabo, que se passa em um cemitério amaldiçoado repleto de monstros que fazem alusão a clássicos do terror e de jogos com essa temática, como a Morte de Castlevania ou o Frankenstein de… Bem, Castlevania!
Apesar disso, o jogo tem uma particularidade: ele quer se assemelhar ao que os jogos ruins faziam naquela época, então não será incomum você ver padrões de movimentação completamente absurdos que vão te pegar de surpresa, posicionamentos de inimigos em que seus tiros não o acertarão, inimigos que dão respawn (o famoso “nasceu de novo”) quando você deixa a tela e retorna para ela, e itens colocados em locais estratégicos para tirar uma com a sua cara.
Ele é basicamente um Run n’ Gun, em que você precisa atirar em tudo o que se move pela tela, buscar recursos, melhorar armas – já falo mais sobre isso – e seguir caminhos bifurcados até o chefe final da fase.
Sobre a questão de melhorias das armas, o jogo distribui alguns upgrades para a sua arma, que podem ser coletados ao longo da fase. Porém, se Nerd for atingido, você perde um nível de upgrade, que é informado na parte superior da sua tela. Aumentar seu nível de tiro é essencial para conseguir ter menos dificuldades nos chefes. Logo mais eu falo sobre eles.
Nerd também conta com uma rasteira, para atingir locais mais baixos, já que ele não se abaixa no game, e nem atira para cima – típico de um jogo limitado e ruim que aparece frequentemente nos episódios do AVGN.
Após completarmos um número de fases, somos levados até uma cena em FMV, como se estivéssemos participando ativamente de mais um episódio d’O Nerd. O que cria uma narrativa bem legal, mas eu não sei se isso funciona com quem não tem uma certa familiaridade com o personagem.
Aliás, essa é uma questão que eu confesso que me peguei perguntando enquanto jogava esse jogo: o quanto ele funciona com pessoas que não conhecem ou não estão familiarizadas com o personagem, com as histórias e toda a maluquice do AVGN?
EMPUTEÇA-SE!
Sim, eu vou começar esse tópico com a mesma palavra que inicia toda fase: ficar PUTO com esse jogo não é algo incomum, sobretudo se você jogá-lo nas dificuldades mais altas, é bom preparar uma boa dose de remédios para dor de cabeça e calmantes, porque sempre que você pensar num conceito lixo de um jogo, naquela coisa que te deixa mais puto e que mesmo assim, insistem em colocar nos jogos atualmente para dizer “nossa, nosso jogo é dificilzão, hein?”, essa característica vai estar presente.
São os famosos empurrões para o abismo, são os que já citei anteriormente, com padrões de movimentação escrotos e inimigos posicionados pra te causar dano de maneira babaca. Nada disso aqui é incomum, muito pelo contrário: isso aqui é um verdadeiro bolo de merda desse tipo de coisa que irrita até o mais Zen dos jogadores.
Agora, sobre os chefes, todos, absolutamente TODOS tem padrões de ataques completamente ridículos, e que numa dificuldade normal já vai te dar trabalho. Por isso eu recomendo que se você for experimentar esse jogo, vá na dificuldade “DE BOA NA LAGOA” primeiro, para conhecer o game e ver se ele é para você. Se a coisa engrenar, tente nas dificuldades mais altas.
O jogo também traz algumas opções visuais, que simulam uma tela antiga, com filtros CRT e funciona numa resolução menor, afinal é um game em 8 bits – apresar de usar bastante tecnologia recente para replicar isso. Os visuais são legais, mas alguns cenários são um amontoado de pixels com cor de bosta, como na fase do E.T… Que fase HORRÍVEL DE FEIA, mas replica bem de mais a falta de cuidado que o jogo original do Atari tinha… Que era nenhuma no caso!
As músicas também são interessantes e replicam muito bem essa estética 8 bits, com direito a música-tema d’O Nerd, o que eu achei bem legal, mas que volta para aquela pergunta que eu fiz mais acima: o quanto disso conversa com quem simplesmente pode pegar esse jogo sem conhecer nada sobre o personagem.
E o saldo é…?
Angry Video Game Nerd 8-Bit é um jogo que consegue replicar muito bem a ideia do personagem de falar sobre jogos ruins, e te incluir em um episódio da série. Porém, eu que acompanhei por muito tempo o trabalho de James Rolfe, Mike Matei e o pessoal todo do Cinemassacre, conheço boa parte dos personagens e das referências usadas nesse jogo. E de novo eu volto na questão central: como esse game funciona para quem não é familiarizado com esses personagens.
De resto, ele é uma boa versão de um Mega Man extremamente cagado e cheio das réplicas de problemas de jogos de outrora, que tinham suas limitações, mas também tinham sua falta de polimento e de testes, e chegavam até nossos videogames da maneira mais merdeira possível.
Se você gosta de jogos que giram na base da trollagem e dificuldade por apresentarem todos os conceitos mais carniças de outrora, esse jogo é para você. E sim, ele vai te levar de volta para o passado, da PIOR MELHOR maneira possível. Ou não!
Esta cópia de Angry Video Game Nerd 8 Bit foi gentilmente cedida pelo https://www.keymailer.co para a produção desta análise.




