Houve um tempo em que os jogos de videogames eram mais simples e tinham um único objetivo: acumular pontos e tornar isso um desafio coletivo e pessoal: quem é capaz de juntar mais pontos?
Por certo que esses jogos tinham os mais variados estilos, mas talvez um dos grandes expoentes desse tipo de jogo eram os jogos de navinhas. Com o passar dos tempos, os videogames foram abandonando essa característica de pontuação para assumir um papel narrativo, assumindo outras características. E esses jogos de navinhas – ou como o TRUE GAMER gosta de dizer “Shoot’em Up”, ou para os mais íntimos, Shmup – começaram a desaparecer da cena.
Porém, em 2025, fomos agraciados com o retorno desse tipo de jogo com Earthion, que promete não apenas trazer a nostalgia e o desafio desse tipo de game clássico, com um toque adicional. Quer saber que toque é esse? Então coloque seu cinto de segurança, ligue as turbinas da sua nave e embarque com a gente nessa análise de Earthion e o retorno dos jogos de navinhas!
Desafio para veteranos, e um presente para os novatos
Earthion possui uma premissa um tanto simples: Num futuro não muito distante, a raça humana esgotou completamente os recursos naturais da Terra, o que levou o planeta a um grande colapso. Os humanos sobreviventes tiveram então que se refugiar em Marte.
Mesmo em decadência, a Terra então passa a ser palco de um conflito contra invasores extraterrestes e tudo o que resta é tentar defender o que restou do nosso planeta, na esperança de conseguir retomar seu lar de volta.
Na pele de Asuza Takanashi, uma pesquisadora ambiental, embarcamos em nossa nave YK-IIA e lideramos a maior incursão da história da humanidade: revitalizar o planeta Terra e acabar com a ameaça alienígena de uma vez por todas.

Asuza usará todo o seu conhecimento científico e sua habilidade de pilotar para salvar a Terra – Imagem: Reprodução
Apesar do game possuir um pano de fundo, pouco da história é visto em game, pois o foco de Earthion é basicamente a sua jogabilidade. Para quem é veterano em jogos de navinha, ele não apresenta grandes novidades: nós andamos com o veículo da esquerda para a direita, podendo controlá-lo em direções variadas, atirar, coletar itens que aprimoram nosso arsenal e tudo o que se move na tela precisa ser eliminado.
Essa análise poderia acabar por aqui, mas Earthion traz algumas qualidades de vida bem interessantes. Diferente de outros jogos do gênero, nós temos uma barra de escudo e de tiro, posicionadas na parte superior da tela. Isso porque a lógica do game não é “um tiro, e lá se vai minha chance”.
Ele quer testar suas habilidades de outra maneira que não seja sendo sacana, ao ponto de fazer você morrer por esbarrar nas paredes.
O jogo quer testar como você aprende, pois o fator gameplay dele é bem satisfatório e, ao morrer, você aprende não só o posicionamento dos inimigos, mas também como eles irão tentar impedir o seu avanço, e esse aprendizado leva um certo tempo.

Os inimigos podem parecer ameaçadores, mas com tempo e prática tudo fica mais fácil – Imagem: Reprodução
Por isso o jogo parece ser generoso com os jogadores mais novos, mas também vai atender aos mais experientes nas dificuldades mais elevadas. A curva de dificuldade do jogo também é bem balanceada, com fases mais simples no início e à medida que o jogo avança, o jogo irá pedir mais atenção e habilidade do jogador.
Claro que os desafios ficarão mais altos caso você não tenha as armas corretas e também tenha coletado menos itens que permitem aprimorar seu escudo, seu nível de tiro e sua quantidade de vida.
Uma experiência arcade dos anos 90 – sonora e visual
Earthion não quer enganar o jogador em sua proposta. Ele é nitidamente uma carta de amor dos anos 90. Com visuais que lembram jogos da era do Mega Drive, o game tenta o tempo todo emular esse sentimento de nostalgia que é se sentar no sofá e se desafiar pelos oito estágios até a tela de créditos.
Essa carta de amor não fica apenas no visual, mas também em seus efeitos sonoros e trilha sonora, composta por ninguém menos que Yuzo Koshiro, responsável por trilhas como Streets of Rage, ActRaiser e Shenmue. Koshiro aqui faz um trabalho primoroso de unir a nostalgia com composições completamente originais para esse projeto.
Alguns efeitos sonoros até mesmo se assemelham muito com os utilizados em projetos passados do compositor – e por vezes eu me peguei pensando se houve um reaproveitamento, justamente para conversar com esse jogador mais velho, que lembra como eram os efeitos de seleção de personagens e sons de tiro de outrora.
O fato é que Earthion é um respiro leve, porém exigente, em um mundo onde jogos demandam muito tempo e dinheiro dos jogadores. Ele é o tipo de jogo que vai te acompanhar por um breve momento, enquanto você decide em qual outro mundo semi ou aberto você irá querer se aventurar num futuro próximo.
Vale destacar que todo esse visual e essa aura retrô não ficam apenas presos nesse tipo de elemento. Earthion foi um jogo praticamente desenvolvido nativamente no Mega Drive e que pode ser jogado em um console da Sega dos anos 90, sem precisar de mil gambiarras.
E o saldo é…?
Earthion é um projeto simples, porém robusto, que escreve uma carta em homenagem aos jogadores de outrora, mas que é capaz de comunicar com novos públicos.
Apesar de estar disponível para as principais plataformas atuais, é um jogo que também conversa com o passado e pode ser aproveitado até naquele seu Mega Drive empoeirado aí, sem problema algum. Isso traz uma importante reflexão sobre nosso comportamento de consumo, quando em pleno 2025 um jogo é capaz de rodar em um aparelho de quase 40 anos atrás.
Earthion é a prova de que em tempo complexos, em que a busca por uma realidade nos games é uma constante, a simplicidade e a dedicação, unidas pela diversão e por uma identificação visual e sonora, ainda são capazes de conversar com aquele sentimento que nos fez gostar de videogames.
Esta cópia de Earthion para Nintendo Switch foi gentilmente cedida pela equipe da agência Masamune para a produção desta análise.

