Master Lemon: The Quest for Iceland – Análise (PC)

As palavras têm poder”. Eu lembro de incontáveis vezes que a minha mãe usava essa frase, seja para repreender por alguma coisa feia que eu ou meio irmão dizia, seja para sintetizar algum acontecido envolvendo um desejo e a realização.

 

Anos mais tarde, estudando jornalismo, eu me deparei novamente com essa afirmação que sempre me foi tão familiar, quando o assunto é a responsabilidade de informar – e também sobre o ato de DESINFORMAR – as pessoas.

 

Hoje, escrevendo essa análise sobre Master Lemon, eu novamente me encontro aqui. Um punhado de inúmeras palavras poderiam sintetizar bem esse jogo. E eu escolhi três delas para compor essa análise: Amizade, Nostalgia e Saudade. Quer saber o porquê? Então me acompanhe por essa experiência interativa que é Master Lemon: The Quest for Iceland.

 

Amizade

 

Em Master Lemon assumimos o papel do personagem Limão. Ele é um jovem extremamente apaixonado por linguagem e tem o sonho: viver na Islândia para conhecer mais sobre a língua viking. No entanto, durante um trajeto pela Estônia, Limão sofre um acidente de carro e morre.

 

Sabendo do ocorrido, seu amigo Julio Santi, decide homenagear o amigo criando este jogo e honrando a memória e o sonho de Limão (apelido de André Lima). Apesar da tragédia que motivou a criação do jogo, o trabalho de Santi e da Pepita Digital é um jogo com coração. Master Lemon não é apenas um jogo: ele é uma experiência sobre um amigo querido que se foi, mas que deixou uma semente plantada.

 

Durante sua festa de despedida, Limão é magicamente transportado para uma terra mágica conhecida como Ilha dos Bashires. Essas criaturas, que lembram bastante elfos, são os responsáveis por manter as línguas vivas, mas uma terrível escuridão ameaça a Árvore das Línguas e só você é capaz de contornar essa situação.

O jogo tem uma carga emocional muito grande e ótimas mensagens – Imagem: Reprodução

Limão então parte em uma jornada de autoconhecimento e de aprendizado para reestabelecer o poder da árvore através das palavras. Com os Bashires orientando seu caminho, o jogo é quase uma experiência pelo laço de amizade que une Limão e Julio.

 

Toda a aventura gira em torno de resolver quebra-cabeças envolvendo o uso de palavras e termos em várias línguas, o que é muito legal, porque ao aprender uma palavra nova, não apenas ouvimos a sua pronúncia, como também sua origem e o que aquela palavra significa.

 

Muitas dessas não possuem um equivalente em outras línguas, mas é muito interessante saber que existe um termo em alemão para a sensação de estar sozinho em uma floresta, ou uma palavra que japonês que especificamente é uma insatisfação pelo seu corte de cabelo. E claro, não poderiam faltar termos em português que seguem essa mesma regra, como “Gambiarra”.

 

Aliás, o que realmente vai te salvar aqui é justamente o poder da GAMBIARRA, uma vez que ele serve para encontrar soluções práticas como atravessar uma ponte, criar uma ferramenta para arrombar portar ou fazer uma faca extremamente afiada para fazer sushi.

Limão pode usar o poder da Gambiarra para solucionar problemas – Imagem: Reprodução

O jogo não possui combate, e tudo é resolvido através dos inúmeros quebra-cabeças que cada uma das áreas oferece. Ele também tem algumas missões secundárias, em que você deve ajudar alguns outros Bashires a reestabelecer conexões com sua língua de origem e aprender novos termos no processo, ou até mesmo receber presentes pela sua boa ação.

 

O game leva cerca de 4 a 5 horas para ser concluído, e vai depender muito de como é seu ritmo de jogo. Mas a curta duração é suficiente para você se manter conectado com aqueles personagens. Não era incomum começar uma sessão de Master Lemon e nem ver o tempo passar, tamanha a imersão narrativa que esse jogo possui.

 

Outra coisa que é muito boa é que o jogo está completamente em português, até mesmo dublado – E sim, Julio Santi… Eu vi – ou melhor, OUVI, quem você trouxe para esse projeto e porque trouxe. E isso nos leva ao próximo tópico: Nostalgia.

 

Nostalgia

 

Eu já devo ter falado isso algumas vezes, mas é sempre bom frisar: eu sou um entusiasta de pixel art. Amo esse estilo e aqui, em Master Lemon, o trabalho do estúdio Pepita Digital é primoroso.

 

Os cenários, efeitos, o visual das ilhas e as cutscenes com grandes pixels em tela… Tudo isso reforça o apelo nostálgico que o jogo quer passar. Com certeza, o game acabou adotando esse visual justamente para unir o peso narrativo a uma conexão entre o jogador e o jogo, e também porque provavelmente tanto Julio quanto o Limão da vida real também tinham algum apreço ou conexão com esse estilo.

Os “itens” principais do jogo são as palavras e os seus significados – Imagem: Reprodução

Fato é que a primeira vez que eu vi o game eu já automaticamente coloquei ele na minha lista de desejos da Steam por conta do visual. A pixel art é o tipo de estilo que conversa muito com o meu gosto pessoal para jogos.

 

Mas não é necessariamente sobre pixel art que eu quero falar aqui nesse trecho, mas sim sobre tempo. Master Lemon é aquele tipo de homenagem póstuma porque nem sempre a gente tem tempo de homenagear quem a gente gosta. Muitas vezes porque a gente acha que tem tempo demais, ou é surpreendido com tempo de menos.

 

Fato é que a nostalgia serve para a gente lembrar que o tempo passa, mas o sentimento de algo bom, de alguém que a gente gosta, esse fica. Porém o tempo é implacável, porque ele segue adiante e não olha para trás. E quando a gente pisca, já pode ser tarde para dizer “eu te amo”, “obrigado”, e “eu estou aqui”.  E isso então nos leva a nossa última palavra.

 

 

Saudade

 

Eu ainda estou pensando muito nesse game. Em cinco horas que eu passei com ele, eu estive numa montanha-russa de sentimentos. Ora eu ria de alguma piadinha, algum termo engraçado, alguma situação; ora eu ficava pensando sobre a mensagem que ele passava, e ora eu sentia saudade.

É muito curioso, pois jogar Master Lemon é como você tentar entender um sentimento que guia a gente. E o tempo todo eu me pegava pensando “esse jogo não é só um jogo. Ele é uma tentativa do seu criador de que adentrássemos a saudade que ele sente do amigo.”

 

E eu acho que Julio Santi foi muito ousado de partilhar um sentimento tão íntimo com a gente, mas ao mesmo tempo muito cuidadoso com a forma como ele honra a memória do amigo nesse projeto. Em tempos em que as coisas se tornam cada vez mais automatizadas, com os avanços tecnológicos suprimindo a criatividade e a arte, é muito bom topar com um jogo cheio de alma, coração e sentimentos, mas sobretudo, um jogo humano!

 

… E o saldo é?

 

Eu sei que talvez essa análise fique devendo um pouco sobre mecânicas e outras coisas sobre o jogo em si, mas é justamente por querer que você experiencie Master Lemon: The Quest for Iceland.

 

Como eu disse no decorrer da análise, ele não é apenas um jogo, mas uma experiência interativa e uma jornada muito pessoal sobre a partida de um amigo. O meu intuito aqui é apenas despertar a curiosidade e fazer com que você o jogue para tirar suas próprias conclusões.

 

O que posso dizer em síntese é que Master Lemon foi uma das melhores experiências narrativas que eu tive com um game esse ano. Portanto, eu recomendo muito que você jogue e descubra o sentido de uma palavra apenas: a MEMÓRIA.

 

Esta cópia de “Master Lemon: The Quest for Iceland” foi gentilmente enviada para a produção desta análise.