Eu lembro muito bem quando comecei a me interessar por jogos Souls-Like, ainda lá no PS3, com Demon’s Souls, e depois Dark Souls. Para mim, essa estrutura de uma narrativa fragmentada e uma dificuldade acima da média, ambientada em um mundo em decadência já estava estabelecida. Isso fica ainda mais evidente com o passar dos anos e os jogos tentando beber dessa fonte, tamanha foi a força que esse novo gênero trouxe, ao ponto de quase todo mundo querer um souls-like para chamar de seu.
No entanto, isso parece ter mudado com os anos. Experiências single player foram sendo deixadas para um nicho, enquanto o sucesso se concentrava em jogos com experiências cooperativas entre times, ou até mesmo em experiências solos contra outros jogadores. Isso não apenas se mostrou rentável para as empresas, mas também uma tendência entre novos jogadores. Sucessos como Fortnite e PUBG – e posterior, chegando até mesmo a Call of Duty – são a prova de que essa estrutura pode render jogadores engajados a longo prazo e uns bons trocados para as empresas.
Mas será que o gênero souls-like pode desfrutar dessa fatia do mercado, unindo uma experiência desafiadora com elementos desse tipo de jogo?! Elden Ring: Nightreign veio para responder essa dúvida e eu espero conseguir ajudar você, a decidir se as Terras Intermédias são um bom espaço para juntar os amigos e sobreviver a três longas noites, repletas de desafios e perigos.
Vem comigo que eu te conto no caminho, enquanto coletamos itens antes que a chuva nos alcance!
Essa talvez seja uma das perguntas mais pertinentes dessa análise. Afinal, mesmo a FromSoftware explicando o que esse jogo seria, muita gente ainda se perguntava se ele era uma sequência, uma DLC, ou um spin-off do jogo principal. Então, vamos direto ao ponto: Nightreign não é nem um, nem outro. Ele é um jogo completamente novo, com uma outra lógica embutida. A ideia partiu do diretor Junya Ishizaki, que trabalha há anos na empresa, e tinha uma ideia de criar um verdadeiro jogo co-op utilizando algum universo criado pela From Software.
Com o sucesso de Elden Ring, a ideia foi apresentada e grande parte dos assets (de “partes”) do jogo foram transportadas para este game.
“Tá Vinícius, você falou, falou… Mas o que é esse tal Nightreign no fim das contas?” – Agora sim, a gente pode responder essa pergunta ainda mais diretamente: É um jogo co-op com algumas bases já vistas em outros games, como PUBG e Fortnite: você entra na partida de forma solo ou com três jogadores (e aqui, no caso, oficialmente, você só pode jogar desta maneira: com números ímpares mesmo) e você precisa sobreviver a dois dias e três noites até enfrentar o grande chefe na terceira noite.
Para isso, nós contaremos com seis personagens – e mais dois destraváveis, conforme a história avança e conforme a sua curiosidade também. São eles: Selvagem, Duquesa, Olho de Ferro, Guardião, Reclusa, Corsário, Espectro e Executor.
Cada um destes joga de uma maneira bastante única e o sucesso das três noites vai depender muito do quanto você conseguiu aprender sobre cada um deles.
Na minha experiência inicial, eu dei preferência ao Selvagem. Isso porque ele me pareceu o personagem mais equilibrado e parecido com a minha experiência em Elden Ring: um personagem versátil e que faz um combate corpo-a-corpo. No entanto, aqui veio um estalo para mim: reaprender a jogar souls-like nesse formato.
Eu queria um personagem que me desse o conforto de já saber como usá-lo. Mas tudo aqui é diferente e vai necessitar que você reaprenda algumas coisas. Após uma série de tentativas em tentar vencer a primeira grande noite fracassarem, eu decidi abandonar o personagem e investir em outra experiência. E foi aí que o jogo clicou pra mim.
Eu acredito que se você sabe como esses games numa pegada Battle Royale funcionam, você não terá problemas em entender como Elden Ring Nightreign funciona. Ao selecionar uma partida na Mesa Redonda, você terá a opção de procurar uma partida aleatória com jogadores aleatórios, ou formar uma equipe com seus amigos e partir em missão até derrotar o grande senhor da noite.
Aqui já vale a primeira grande crítica que eu tenho a esse jogo: ele não possui nenhuma maneira de comunicação clara com jogadores aleatórios. Nem por texto, nem por voz, nem nada. A única coisa que pode se dizer que sirva como um norte é a possibilidade de você marcar pontos de interesse no mapa da área, e torcer para que seus companheiros sigam para o mesmo local.
De resto, você precisará de alguma ferramenta de comunicação externa – como um Discord ou até o vintage Skype para se comunicar com seus amigos. Há também a opção de comprar aquelas espécies de apitos que emitem sons como “Hello”,”Hi” e por aí vai. Não é a melhor maneira de se comunicar, mas talvez para algo rápido valha.
A minha jogatina foi dividida em duas experiências: uma sozinho e outra em co-op com estranhos. E francamente esse jogo não foi pensado para ser uma experiência single player mesmo. Ele possui uma dificuldade bem elevada, ao jogar sozinho. Talvez – e só talvez – essa sensação de que ele é mais difícil em modo solo se deve ao fato de que você não constrói o seu personagem: ele já vem pronto. Você precisa apenas aprender como jogar com ele e também coletar os itens certos nos locais certos.
Já a experiência co-op foi bem mista. Isso porque algumas vezes entrei em partidas com uma equipe bastante engajada em chegar até o final daquela fase, prestando todo o tipo de assistência e promovendo uma gameplay mais equilibrada.
Já em outras ocasiões, eu peguei grupos que simplesmente cada um farmava em um canto do mapa, resolvia sua vida e vez em quando, indicava algo no mapa para que o resto do grupo fosse até aquele ponto, mas sem compromisso algum de levar o grupo adiante naquela partida.
Por isso, aqui fica a primeira dica dessa análise (uai, e pode colocar dica em análise? – eu faço as regras da minha própria análise!): Se possível, mantenha um grupo de amigos para jogar Nightreign e que, mesmo que não tenha pego todos os macetes do jogo, invista numa equipe em que a comunicação e a unidade sejam os focos.
Acredito que o tópico anterior tenha ajudado você no entendimento das mecânicas primordiais de Nightreign, certo? Aqui, vou aprofundar um pouquinho mais em como você poderá deixar sua experiência melhor, após ter resolvida a questão de como jogar e com quem jogar.
A partida se inicia com você podendo escolher entre os seis personagens base – e os dois que você desbloqueou na sua exploração. E uma dica interessante é: tente destravar esses personagens o mais breve possível, pois eles ajudarão muito na sua gameplay, ainda mais se você ou outros jogadores dominarem esses personagens. Isso pode fazer uma grande diferença. Escolhidos os personagens, é hora de partir para o terreno nas Terras Intermédias, através das águias espectrais.
Aqui já vale outra dica: aproveite o momento para analisar quais são os acampamentos mais próximos e se há Igrejas de Marika por ali também. Os acampamentos ajudarão você a subir de nível e as igrejas terão sempre um altar para aumentar o número de Frascos de Lágrimas Carmesins – ou o Frasco de Estus, como popularizou Dark Souls.
O grande desafio é encarar os Lordes da Noite, chefes criados unicamente para o game – Imagem: Bandai Namco
Após derrotar os inimigos nos acampamentos mais próximos, procure sempre o Local de Graça mais perto e aumente o nível do seu personagem. Ao todo, é possível aumentar o seu nível até o 15, e você terá até a terceira noite para tentar chegar lá.
A exploração aqui também é muito importante. Por isso, sempre marque no seu mapa as fortalezas e cavernas próximas, e parte em busca de enfrentar os chefes espalhados pelo mapa, para conseguir uma boa quantidade de almas, e nas cavernas, para encontrar pedras para fazer os upgrades em suas armas.
O personagem no qual jogamos já possui uma build predeterminada, então o máximo que controlamos aqui, na tentativa de fazê-lo ficar preparado para os desafios, é subir de nível e encontrar itens que aumentem seu dano e também concede habilidades passivas.
Sempre que você derrotar um inimigo em um desses postos de controle – fortalezas, cavernas ou até mesmo em campo aberto, ele deixará uma espécie de recompensa que pode ser tanto uma habilidade passiva, quanto itens que melhoram os seus atributos. Não deixe nada para trás, mesmo que uma determinada habilidade não seja propriamente adequada para o seu personagem – como por exemplo, um personagem tanque receber atributos focados em magia.
Explorando, é possível encontrar aqueles besouros rola-bosta espalhados pelo mapa. E aqui eles tem uma importância e tanto, uma vez que eles são responsáveis por drops de amuletos que aumentam seus atributos, seja em habilidades passivas, sejam em questão de combate. É de suma importância que você colete esses itens para ir evoluindo e se preparando para a Grande Noite.
Mas você deve estar se perguntando “mas porque tantas dicas assim em uma análise? O jogo com certeza te fala isso, né?…” Bem, não! O jogo não faz a menor questão de te dar esses tutoriais ou direcionamentos. E apenas com a experiência é que você vai pegando esses pormenores. E a minha experiência inicial foi bastante frustrante, sem saber de alguns desses detalhes. Por isso, se você quiser passar menos raiva em Nightreign, é melhor seguir algumas dessas dicas.
Outras, eu acho melhor você descobrir por si só, tendo a experiência de jogo.
Nightreign de fato não é um precurssor no que se propõe a fazer. Alguns que vieram antes dele já entregaram as bases do que ele seria, como eu disse no início dessa análise. Mas é inegável que ele possui um charme único, mesmo limando algumas das experiências que a From Software costuma entregar em seus jogos.
Mas ei! Estamos falando de um jogo com uma nova proposta. Então, é claro que algumas mudanças precisaram ser feitas. Ao todo, os jogadores terão 14 minutos para explorar o mapa durante o dia, coletando recursos, matando inimigos mais fortes e se preparando para a terceira noite. Após isso, o cerco começa a se fechar, e é preciso se deslocar o mais rápido possível para o ponto indicado pela Térvore – que você pode ver na bússola, na parte superior da tela, ou então localizá-la no mapa.
Ao chegar lá, teremos o grande desafio do dia – ou melhor, da noite – em que primeiramente enfrentaremos uma horda de inimigos e depois o grande chefe daquela área. Aqui também vale uma consideração: como funciona a morte aqui nesse game.
Nossa jornada começa vendo os principais pontos de interesse e traçando a melhor rota de estratégia – Imagem: Bandai Namco
Se você for derrotado, seja durante o dia, seja fora de uma das batalhas que envolvam a grande batalha de uma das noites, é como em um souls-like normal: o seu personagem cai, e você perde suas almas e é ressuscitado em um ponto próximo. Mas a grande diferença é que logo que você cai, um contador de tempo aparece e você possui três barras roxas logo acima do personagem. Se um dos seus companheiros estiver perto, ele pode bater em você até esvaziar essa barra, e você retorna ao jogo. Se não, você sofrerá as penalidades por ser derrotado, o que inclui perder um dos níveis que você upou o personagem.
Já na grande batalha da noite, você não conta com o contador de tempo, mas dependerá da habilidade dos seus companheiros. A opção por bater no personagem para trazê-lo de volta foi uma decisão da equipe, pois como as lutas em Elden Ring – e em Souls, de maneira geral – são bastante frenéticas, não seria viável ter uma recuperação tradicional.
Porém, de todos os personagens morrerem em combate, contra um grande chefe, a missão falha e você terá que recomeçar aquela missão toda novamente. Aqui a estratégia não é apenas sobreviver, mas tentar fazer com que seus companheiros também fiquem firmes em combate para avançar.
Outra maneira de reviver seus companheiros é utilizando as habilidades únicas dos personagens – as chamadas Ultimate, ou Ult para os íntimos. Essas habilidades podem não apenas causar uma grande quantidade de dano nos inimigos, como também acelerar o processo de recuperação de um aliado caído. Então, saber a hora certa de utilizá-la é algo essencial para o sucesso da sua expedição.
Apesar de divertido, Nightreign possui algumas ressalvas. E eu já queria tirar esse elefante da sala e dizer que o que eu escrever aqui é baseado unicamente na MINHA EXPERIÊNCIA, e o que pode ser um problema para mim, pode não ser para você. Dito isso, a primeira coisa que eu queria ressaltar é que o game possui uma dificuldade bastante elevada até você se encontrar e encontrar boas companhias para jogar. Não me leve a mal não, mas eu achei que para um chefe de “tutorial”, o primeiro grande Lorde da Noite, a dificuldade estava bem mais elevada que o padrão.
Não sei se isso é por uma questão da dinâmica coop, não sei se foi apenas uma falta de habilidade, mas sem dúvidas, foi o chefe que mais me deu trabalho, e que me gerou um pouco de frustração.
O segundo ponto é que ele é um jogo sobre repetição. Você vai repetir lugares, inimigos, locais onde encontrar itens e esse looping, somado ao fator de “já sei onde tem os melhores itens” pode ser um pouco decepcionante, pois eu acredito que a ideia aqui seria ter uma experiência quase única em cada uma das partidas. E meio que quando você aprende o que fazer e onde fazer, tudo parece muito mecânico. Para alguns, esse é um dos resquícios do souls-like aqui: decorar itens e padrões. Para quem busca uma nova experiência cooperativa, pode acabar ficando monótono rapidamente.
Outra coisa são as variedades dos chefes. O próprio jogo foi vendido com a premissa de encontrar com chefes de praticamente toda a franquia Souls e Elden Ring. Mas a realidade é que eu sei lá quantas vezes enfrentei os mesmos chefes, em locais diferentes, e até agora não encontrei o bendito Rei Sem Nome de Dark Souls 3.
Elden Ring: Nightreign foi um game divertido. Nas horas que estive jogando ele, o tempo voava e mesmo com alguns problemas, ele acabou sendo uma experiência bem positiva. É claro que ele se torna bem mais divertido com amigos jogando e conversando. Mas a experiência pode ser agradável também com alguns estranhos, se eles estiverem engajados com você.
Talvez o grande ponto negativo que eu deixo para essa parte é que para esse tipo de proposta, ele é uma proposta um tanto salgada: o game está custando quase R$200,00 nas principais plataformas (Steam, PS5 e Xbox Series). Numa boa? Se você tem interesse em conferir esse jogo, aguarde uma promoção, visto o preço cheio que estão vendendo o game e o tipo de experiência que ele te entrega.
Se você é um entusiasta de Souls-Like, fica aqui a minha recomendação para ir de cabeça aberta para esse jogo, pois algumas bases foram mantidas, mas certas estruturas contarão muito com a sua capacidade de adaptação, já que ele não é puramente um jogo Souls-Like. A regra aqui é reaprender para dominar.
E você? Será capaz de dominar esse game e sobreviver às três noites para derrotar os Grandes Lordes? Vá e veja!
Esta cópia de Elden Ring: Nightreign (PC via Steam) foi gentilmente cedida pela Bandai Namco para a produção desta análise
Quando eu joguei Alan Wake original, foi meu primeiro game após montar meu PC na…
Suponho que você provavelmente deva estar exausto de ouvir elogios sobre Expedition 33. Palavras de…
Confesso que nunca me chamou a atenção esses jogos com visual de anime e gatcha.…
Em um mundo cada vez mais acelerado, eu tenho prezado por experiências mais enxutas de…
Morando longe da minha cidade, é sempre uma sensação curiosa quando viajo e reencontro pessoas.…
Um mundo controlado por grandes corporações, cuja violência parece ser o único meio de sobreviver.…
Este site utiliza cookies de terceiros para recompilar informação estatística sobre sua navegação. Se continuar a navegar, consideramos que aceita o uso.