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Midnight Special – Análise (PC)

O que faz um bom jogo de terror? Atualmente, com gráficos cada vez mais realistas e um design de som ambiente que nos transporta até aquele local macabro, é difícil imaginar que um jogo de terror sem alguns recursos destes possa ser um destaque, entre Silent Hills e Resident Evil.

 

Porém, os mais velhos que me leem agora devem lembrar de Clock Tower, um game simples que nasceu no Super Nintendo, mas que mesmo com uma simplicidade visual, conseguiu tirar o sono de muita gente. E é justamente dessa fonte que Midnight Special, o nosso jogo da vez, bebe. E bebe muito!

 

Prepare suas fontes de luz precárias e venha comigo, adentrar essa mansão mal assombrada, repleta de terror e coisas sobrenaturais em Midnight Special. 

 

Um jogo de terror 2D e pixel art?! Isso funciona?!

 

Talvez a primeira coisa que venha a sua mente quando pensamos em um jogo de terror é a tentativa de transportar o jogador para aquele espaço de opressão e trabalhar nele todos os aspectos que tornam aquele ambiente aterrorizante. E aqui não é diferente. 

 

Embora tenha uma simplicidade visual, Midnight Special trabalha muito sendo uma obra inspirada em Clock Tower.  Para quem não conhece, Clock Tower é um jogo de terror para o Super Nintendo, em que assumimos o papel de Jennifer. A garota e um grupo de amigos chegam em uma grande mansão e desde sua chegada, coisas estranhas acontecem, como todos sumindo. Aos poucos Jennifer reencontra seus amigos, porém ela terá que lidar com um perseguidor portando uma imensa tesoura de jardinagem. 

 

A grande sacada desse game é que tudo funcionava de uma maneira meio imprevisível e encontros com Bob, seu perseguidor, criavam um clima de tensão enorme, fazendo com que a exploração ganhasse um caráter de urgência. Já Midnight Special usa dessa estética e conta uma história um tanto semelhante, mas do seu próprio jeito.

 

O jogo se passa em 1987, em uma mansão localizada no estado do Maine. Só por aqui, já sentimos aquele cheirinho de Stephen King no ar. Na porta da mansão está uma garota terminando de fumar um cigarro. Logo ela é interrompida e retorna para dentro do casarão. 

 

Assumimos então o controle de Sarah, uma moça de 17 anos que está trabalhando como babá de duas crianças: Jon, e sua irmã, Ellie. A mansão onde as crianças moram mais parece um museu do que uma casa, repleta de estátuas, quinquilharias e animais taxidermizados. 

 

Sarah então vai até a cozinha e encontra o pequeno Jon sentado à mesa. Ele quer muito fazer um lanche antes de ir dormir. Ela então prepara um sanduíche – ou melhor, nós preparamos – e dá ao garoto, que o devora rapidamente. Após isso, Sarah sobre até o quarto das crianças e Jon fala que perdeu seu melhor amigo: o dinossauro Senhor Feliz. A garota então diz que vai encontrá-lo. 

 

Trabalhando como babá, Sarah deverá preparar seu psicológico… E um bom sanduíche. – Imagem: Scared Stupid

 

Descendo até a sala, vemos o dinossauro e o levamos de volta para o garoto. Que pede que Sarah deixe o abajur ligado, pois o Senhor Feliz tem medo do escuro. Ao entregá-lo, algo estranho acontece que assusta Sarah, que parte para o quarto ao lado. Lá, Ellie pede que Sarah conte uma história para dormir. A garota então conta uma história sobre um bosque escuro e logo Ellie cai no sono.


Aproveitando que as crianças dormiram e que a chuva não a deixa sair, Sarah se deita no sofá próximo da entrada e pega no sono. Ao acordar de um pesadelo horrível, o telefone toca e uma voz masculina do outro lado diz que raptou as crianças. 

 

É aqui que o jogo realmente começa pra valer. 

 

Uma noite alucinante?

 

Como Midnight Special é bastante inspirado em Clock Tower, uma das primeiras coisas que chama a atenção aqui é que ele usa uma jogabilidade point n’ click – ou seja, você interage com os objetos clicando, além de executar ações da mesma forma. O seu principal meio de navegação aqui será o mouse. Os comandos do teclado ficarão à cargo de acessar o seu menu de itens, e também algumas ações reativas. 

 

Basicamente, nós temos duas opções de cliques: com o botão esquerdo, Sarah irá ver o objeto que está na sua frente, e com o botão direito, ela fará uma análise sobre o objeto, ou contará alguma coisa interessante sobre ele. O jogo também conta com um duplo clique do botão esquerdo, que fará com que a personagem possa correr. No entanto, essa ação pode contar com algumas quedas da personagem.

 

Sim, você terá que encarar coisas medonhas como essa – Imagem: Scared Stupid



O jogo não conta com um sistema de barra de saúde, mas sim de sanidade. Quanto menor a porcentagem que tivermos de sanidade, maior serão as “surpresas” pelo meio do caminho. E quando eu digo “SURPRESAS”, são SURPRESAS MESMO!

 

Embora o jogo não tenha inimigos diretamente, somos passíveis de morrer durante a nossa jogatina. Por isso, a primeira dica é encontrar maços de cigarro e também a sala de jogos, pois elas liberam o salvamento rápido e a sala de jogos é uma espécie de sala segura, que você poderá fazer seu save com tranquilidade. 

 

Praticamente todos os objetos da casa são interativos. Então é recomendado que você tenha bastante atenção aos itens naquela sala, e leia todos os registros que forem acumulando em seu menu. Isso vai ajudar bastante, caso você fique perdido em algumas sessões. 

 

A hora do pesadelo

 

Uma coisa que precisa ser dita sobre Midnight Special é que ele é um game de terror muito competente. Apesar de um visual retrô, e que aparentemente não pode te causar desconforto ou uma sensação de terror, o jogo brilha em criar uma ambientação única.

 

A falta de uma trilha sonora constante, e sua única companhia são os sons da casa e os passos de Sarah criam um ambiente de tensão que pode ser quebrado por algum ruído da casa, ou do barulho dos trovões. Atrelado a isso, o ambiente da casa, repleto de animais e estátuas assustadoras também reforçam a ambientação e te fazem pensar que a qualquer momento Sarah pode ser atacada e devorada por um urso que era para estar empalhado. 

 

O ambiente da casa já dá arrepios. – Imagem: Scared Stupid

 

No entanto, há algumas coisas que valem ressaltar como negativas desse game. Durante a minha gameplay eu precisei recomeçar ele do zero porque simplesmente a personagem se recusava a andar enquanto estivesse com o isqueiro aceso. Tentei de todas as formas seguir sem ele, mas em alguns trechos isso se faz impossível. 

 

Outra coisa é que o jogo te dá poucas informações sobre como recuperar um pouco da sua sanidade. E eu tive um bug muito curioso que, ao descobrir como fazer isso, o jogo me permitiu recuperar a sanidade de maneira infinita. Isso é um problema, pois em certos trechos você vai precisar “enlouquecer” um pouco para poder ter acesso a alguns itens que vão destravar mais informações para você. 

 

Sim, é preciso relevar que o jogo ainda está em Early Access, e muitos dos feedbacks da comunidade acabaram entrando para o hall de atualizações do game. Veja, agora ele conta com legendas em português. E confesso que isso me deixou um pouco desanimado, pois apesar de facilitar o entendimento dos eventos, algumas legendas ficaram mal digitadas ou até sem sentido.

Por exemplo: você encontra um castiçal para colocar uma vela. Ele fala “Vela Luz”, que eu creio que foi uma tradução direta de “Light Candle”, de “Acender Vela”. Caso você não tenha uma vela, a personagem dirá “Eu preciso de uma ALÇA”, já que “alça” em inglês é “handle”, parecido com “candle”.


Creio que em atualizações futuras, o game trará algumas correções, pois não deve ser algo complexo de se consertar. Porém, há algumas coisas perdíveis aqui, caso você esteja completamente são da cabeça. Por isso, a dica que eu dou é: fique um pouco louco, que tem muita coisa que pode ser vista além da normalidade aqui.

Alucinações do passado

 

Apesar de sua inspiração mais visível ser Clock Tower, Midnight Special não fica preso apenas aos games. O jogo tenta passar um ar dos filmes de terror da década de 70 e 80, além de tentar replicar um estilo de jogo bastante comum dos anos 90. 

 

Por isso, não dá para dizer que ele é apenas um jogo de terror, mas um adventure – como os clássicos da Lucas Arts – de terror, o que torna ele bastante único, visto que a fórmula criada por Clock Tower não é muito replicada – e que até mesmo seus predecessores deixaram de lado, apostando em uma jogabilidade mais de ação. 

Dr. Who também é uma das inspirações que o game busca para algumas criaturas – Imagem: Scared Stupid

 

O game tem fortes inspirações em Evil Dead, de 1981, dirigido por Sam Raimi, e também o clássico “O Massacre da Serra Elétrica”, de 1974. O jogo também faz algumas referências a Edgar Allan Poe e tem algumas leves pitadas para o final de Twin Peaks, clássico de David Lynch.

É um jogo que não apenas explora o gênero do terror nos videogames, mas está construindo aos poucos uma identidade baseada em grandes clássicos do audiovisual.



E o saldo é…?

Eu levei umas 8 horas para ver os créditos finais de Midnight Special. E ainda assim, eu não vi tudo o que o jogo tem a oferecer. Algumas coisas eu perdi e, apesar de ter levando esse tempo todo, é possível terminá-lo em pouco mais de uma hora, se você souber o que fazer e aonde ir. 

 

O game tem uma ideia interessante e bebe muito de uma fonte de um clássico do Super Nintendo. É um projeto que a Scared Stupid, desenvolvedora do jogo, e a Yamaha Games, a distribuidora, mostram que dá sim para fazer um game de terror muito competente, sem apelar para um horror completamente visual e grotesco. 

 

Eu recomendo muito que você jogue Midnight Special com bons fones de ouvido, já que a experiência se torna ainda mais imersiva. Eu não vejo a hora de mais coisas chegarem ao jogo, pois quero muito saber o que acontecerá dali por diante.

E você, tem coragem de encarar essa meia-noite especial e chuvosa sem enlouquecer?

Este produto foi gentilmente cedido através da plataforma  para a produção desta análise.

Vinícius Vidal Rosa

Ex-técnico em informática, jornalista formado e apaixonado por games e tecnologia. Faz do seu tempo livre, uma maneira de levar informação e falar sobre o que gosta.

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Vinícius Vidal Rosa

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