Video Games

Wuchang: Fallen Feathers – Análise (PS5)

Olha, é muito difícil eu usar esse espaço para tecer comentários ruins sobre jogos, com algumas exceções bem exceções mesmo. Porém, hoje eu vou precisar usar desse espaço para falar de um game e da experiência ruim que tive com ele.

 

Já faz um tempo que eu gosto muito de explorar o gênero Souls-Like. No entanto, eu já joguei coisas muito boas dentro desse gênero, e coisas PÉSSIMAS. Wuchang: Fallen Feathers infelizmente faz parte dessa segunda leva de jogos, cuja experiência mais me pareceu um teste de paciência mesclado com desenvolvedores com sentimentos negativos reprimidos da infância.

 

Infelizmente, esse é um daqueles jogos que eu estou escrevendo mais por uma formalidade do que de fato apresentar uma experiência que valha a pena para quem lê esse texto. Mas no que exatamente esse game falha? É o que eu vou destrinchar para vocês nessa análise.

 

Um apanhado de decisões ruins

 

A primeira coisa que eu queria fazer, como de praxe nos meus textos, é tirar alguns elefantes da sala. O primeiro deles é que sim, haverá comparações com outros jogos do gênero nessa análise, principalmente quando estiver falando de desenvolvimento de personagem e algumas decisões de gameplay. O segundo ponto, é que eu também vou falar de experiências não tão boas que eu tive com jogos do gênero, mas que ainda assim, ainda são experiências que eu levo comigo.

 

Dito isso, Wuchang é um jogo chinês desenvolvido pela Leenzee e distribuído pela 505 Games. Como eu disse antes, ele é um jogo do gênero Souls-Like em que assumimos o papel de Wuchang, uma jovem que perdeu a memória e se vê no reino de Shu, no final da dinastia Ming – sim, o game tem alguns pontos que convergem para pontos reais da história.

 

Wuchang desperta em uma caverna e percebe que sofreu uma espécie de maldição, chamada aqui de Plumagem – que, como o próprio nome diz, faz com que plumas e penas se criem no corpo, até tomá-lo por completo. Ao saber dessa condição, ela parte em uma jornada de autodescoberta para reviver memórias e pôr um fim a maldição que a consome.

Sim, Wuchang tem uma história… Mas isso não salva o game dos seus problemas – Imagem: Reprodução

A premissa do game é bem básica, mas ao melhor estilo souls, parte da trama você irá descobrir ao conversar com NPCs e ler sobre os itens que encontra em sua jornada. Porém, o jogo segue aquela estrutura fragmentada e que vai sempre gerar aquela questão de “será que o que esse personagem está me falando é realmente a verdade?”

 

A verdade é que o jogo não está preocupado em contar uma história que, francamente, ninguém dá muita importância. Sério mesmo, em momento algum, eu senti que a história do game realmente era algo importante ou até mesmo um fragmento imprescindível. E eu não consigo ver grandes canais de lore de souls-like se debruçando sobre o enredo de Wuchang. Não!

 

Na verdade, ela existe. Se você se importar o suficiente – o que eu presumo que NÃO VAI OCORRER – aí você mergulha nesse enredo mais confuso que Donnie Darko. Do contrário, vai ser só um motivo para que a personagem siga avançando. Mas esse é apenas um dos pontos fracos do jogo. TEM MAIS! Vamos falar de gameplay?

 

Tudo o que um souls-like não deveria ser está aqui

 

Eu não sou um bom jogador de souls-like. E eu reconheço isso! Eu sei das minhas limitações e sei que não sou bom o bastante para ter altos highlights nesse tipo de jogo. E de verdade? Nem é algo que eu almejo.

 

No entanto, existem coisas que me prendem em souls-likes. Um combate agradável. Aquele sentimento de êxtase ao vencer uma batalha difícil e o reforço dessa recompensa emocional. Uma construção de mundo interessante. Uma temática que ressoa com o seu gosto pessoal.

 

Eu acho que tudo isso é levado em consideração para que um jogo desses, que vai te tomar um bom tempo, clique com você. Veja por exemplo Lies of P. Ele é uma releitura moderna e muito interessante de um clássico: Pinóquio. Quem diria que teríamos um Pinóquio Souls-Like gótico? E o melhor: é um jogo que te força a aprender, mas que já tem bases bem estabelecidas e cobra de você uma coisa.

 

Wuchang, por sua vez, é aquele tipo de jogo que em momento algum eu sinto isso. Apesar dos chefes terem suas particularidades e alguns – não todos – serem interessantes, em momento algum eu senti que o jogo queria que eu aprendesse algo. Na verdade, ele queria era tirar uma com a minha cara.

 

Isso porque eu sinto que Wuchang sofre daquele problema de “coisa demais atrapalha”. Eu explico: o jogo joga como um souls-like, só que você tem muita coisa para gerenciar. Primeiro que as armas não possuem defesa… A MENOS QUE VOCÊ COMPRE ELA numa árvore de habilidades GIGANTESCA, ao coletar Mercúrio Vermelho – a moeda do jogo.

O combate possui dois grandes inimigos: os chefes e os seus pulmões – Imagem: Reprodução.

Só que o jogo oferece um arsenal tão vasto, que vamos supor que você comprou a opção de defesa para a sua espada… Só que o machado que você coletou não terá essa habilidade já disponível. Você irá precisar comprar essa habilidade para o machado também.

 

Além disso, o jogo tem toda uma dinâmica de gemas e outras melhorias para a personagem que é tão complexo, que nesse ponto eu já tinha perdido completo interesse nos sistemas. É tanto sistema para que você construa sua build, que eu realmente fico pensado se não era melhor fazer um RTS com gerenciamento de exércitos ao invés de um Souls-Like. Sério gente… Não precisava disso.

 

Outra coisa que me deixou muito, MUITO frustrado com esse jogo é dificuldade. Longe de mim querer entrar nesse debate de “ah, mas e modo easy e não sei o quê lá”. Eu acho que Souls-Like em geral é para um nicho específico de pessoas que procuram um desafio à mais. Só que é como eu disse: na minha experiência, em momento algum eu senti que eu melhorava com o tempo. A personagem parece que fuma dois maços de Derby sem filtro antes de qualquer batalha. Gerenciar sua stamina aqui é um verdadeiro INFERNO, porque tudo parece fazer ela cansar.

 

Absolutamente toda batalha é você tentando não morrer de embolia pulmonar, porque a sua personagem simplesmente cansou… E o pior: o jogo é PÉSSIMO em te apresentar como fazer as melhorias e o que são cada uma das opções que você pode gerenciar. Tudo parece muito jogado e o jogador que se vire para descobrir como funciona todos esses sistemas complexos.

 

Talvez o grande problema, é que diferente de Dark Souls, a comunidade de Wuchang é tão pequena que é impossível você pensar em uma grande ajuda para gerenciar uma build que torne as coisas menos complicadas e quais são as melhores estratégias para tornar sua aventura menos frustrante.

 

Performance e problemas para além do jogo

 

Como eu joguei Wuchang no Playstation 5, eu pensava que teria uma experiência um pouco melhor do que no PC, já que o game exige uma máquina intermediária com configurações para além do que eu conseguiria rodar sem gargalo nenhum.

 

No entanto, até nisso eu estava enganado: mesmo depois de patches de correções depois do lançamento, o game ainda sofre com algumas quedas de quadro e eu tive até problemas de tearing no Playstation 5. Sim, é isso mesmo que você leu: a tela simplesmente se partia em duas com o game rodando no modo desempenho.

 

Além disso, tem dois detalhes que me incomodam nesse jogo: o primeiro é que todas as armaduras de Wuchang que você encontra na sua jornada foram categoricamente desenhados para ressaltar o corpo da personagem. Aliás, se tem uma coisa que eles devem ter economizado dinheiro foi em todo o resto, mas o investimento em “física” não houve qualquer contenção de gastos.

O jogo visualmente é bonito, mas tem problemas de performance até hoje nos consoles e PC – Imagem: Reprodução

O segundo é que a personagem parece que é feita de pedra, e todo e qualquer objeto no cenário que você toca, ele automaticamente EXPLODE. Simples assim. Todos os objetos quebráveis estão ali para que você passe como um caminhão por cima e destrua todos eles.

 

O jogo também passou por uma revisão histórica na atualização 1.5, que impossibilita que o jogador mate alguns chefes com ligações históricas com a China, já que uma parcela pequena, mas barulhenta, se irritou com a possibilidade de matar tais figuras no jogo. Após isso, eles ficam apenas em estado de cansaço e dizem que você “passou no teste”.

 

Isso acabou gerando uma certa revolta em alguns jogadores, pois altera o andar da história. Então, quem jogou o jogo antes da atualização e o jogar agora, perceberá que é quase uma outra ramificação da trama.

 

Outros exemplos de Souls-Likes ruins

 

É muito difícil conseguir replicar a fórmula que a From Software consolidou com o gênero. Há uma série de fatores que convergem para que o produto dela seja algo diferenciado no mercado e que cative um número massivo de jogadores. Até mesmo as implementações de novidades são feitas de maneira gradual – olha o salto que é de Dark Souls 1 para Dark Souls 2 e como alguns status geraram confusões ao ponto da empresa rever essas implementações com títulos posteriores.

 

Porém, quando a gente fala de replicar uma fórmula, ela pode ser bem replicada ou mal replicada. Quase sempre, essas réplicas tentam algo novo ou que as diferencie do resto. Um exemplo disso é Mortal Shell. Esse é aquele tipo de jogo que pegou e tentou implementar o sistema de cascas.

Salvas exceções, todos os sets de armaduras ressaltam os “atributos” da personagem – Imagem: Reprodução

O jogo pode ter uma qualidade questionável sim. Ele pode não ser um souls da From, mas primeiro: ele não é uma experiência longa. Segundo, é que a curva de aprendizado dele também respeita o tempo do jogador e não leva muito tempo até você sacar como ele funciona.

 

Outro exemplo é Lords of the Fallen – o de 2014, não o de 2023 -, foi um jogo em que eu tive uma dificuldade tremenda, porque o meu personagem parecia que carregava dois botijões da Liquigás em cada perda. Tudo ali era lento. Tanto que eu acho que a melhor trilha sonora para aquele jogo seria algo na pegada do Type O Negative, de tão lento que ele é. Porém, ainda sim, foi um jogo que eu fui até o fim – porque era o que eu tinha para jogar naquele momento.

 

Wuchang me perdeu em definitivo com 10 horas de gameplay. Eu não sinto que vou aproveitar mais o game, e o sentimento que eu tenho ao jogá-lo é que eu deveria estar focando em outra coisa. E eu sinto que isso é o bastante para poder ter um parecer sobre ele. Definitivo? Não! Mas o bastante para tecer comentários.

 

E o saldo é…?

 

Wuchang: Fallen Feathers é definitivamente um dos souls-likes já lançados. E é definitivamente um dos jogos que eu mais relutei em escrever sobre, por não seguir até o final dele. É claro que a minha análise é parcial e incompleta, porém é o meu ponto de vista sobre um potencial desperdiçado.

 

Eu espero que, em termos de jogabilidade agradável e árvore de habilidades, o próximo projeto da Leenzee se aproxime mais do seu conterrâneo Black Myth: Wukong – que eu também tenho algumas críticas, mas mais ao redor do game, e não como jogo em si.

 

No final, eu sinto que Wuchang pode se resumir a isso mesmo: um potencial desperdiçado por péssimas decisões. É o preço de querer fazer tão ambicioso assim: ou você cria um novo paradigma e sobe o sarrafo, ou tropeça neste. E nisso Wuchang se sobressai: ele é o exemplo perfeito do que um souls-like não deve ser.

 

Esta cópia de Wuchang: Fallen Feathers foi gentilmente cedida pela 505 Games para a produção desta análise. 

Vinícius Vidal Rosa

Ex-técnico em informática, jornalista formado e apaixonado por games e tecnologia. Faz do seu tempo livre, uma maneira de levar informação e falar sobre o que gosta.

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Vinícius Vidal Rosa

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