[Crítica] Spotlight: Segredos Revelados

Ainda sob o clima de um Oscar pra lá de polêmicas e “merece-não merece”, eis que me aventurei por alguns dos filmes vencedores da Academia. E confesso que me chamou bastante à atenção quando foi anunciado o vencedor-mor da noite, com “Spotlight: Segredos Revelados”. Um filme que retrata como a equipe investigativa do jornal “The Boston Globe”, conseguiu desmembrar uma alta rede de pedofilia dentro da maior instituição religiosa do mundo: A Igreja Católica.

Mas, me deparei com um filme bastante técnico por alguns aspectos. Com diversos diálogos rápidos, e com voltas e voltas dentro de uma redação claustrofóbica.

Rachel McAdams, Mark Ruffalo, Brian d'Arcy James, Michael Keaton and John Slattery play Boston Globe journalists in the film, Spotlight.

Rachel McAdams, Mark Ruffalo, Brian d’Arcy James, Michael Keaton e John Slattery como jornalistas do The Boston Globe, em Spotlight.

Eu gostaria de antes de qualquer coisa, ressaltar mais uma vez que tudo o que você lerá aqui, é a minha visão do filme, e que não deve ser levada tão a sério assim – até mesmo por que, eu não tenho o mesmo prestígio de um grande redator de um grande veículo midiático.

O filme começa com um ritmo bem lento, onde você é quase transportado à apresentação dos personagens. Mas mesmo em um ritmo lento de início, você fica ao mesmo tempo em que instigado por tudo o que está ocorrendo, indignado com tudo o que absorve.
Eu não quero entrar no mérito e explorar a seriedade do filme. Até por que, ao tocar em assuntos tão delicados como fé e abuso sexual, fica difícil poder encaixá-lo no contexto de todo o site.

O que me chamou a atenção, é que Spotlight é aquele tipo de filme que você debate, conversa, recomenda, mas ele é um filme “ok”. Ele só tem o peso de um “Melhor filme”, devido à sua narrativa muito bem trabalhada, e seu assunto polêmico.
Hollywood nada mais fez com que ele fosse visto e descoberto. Você não vê esse tipo de filme batendo de frente com blockbusters como “Mad Max”, por exemplo, ou lotando salas de cinema. Ele é um filme de nicho, onde é mais fácil prender um público em uma sala de cinema por duas horas, quando você é atraído por um ritmo de filme onde tudo parece muito linear.

Os relatos descritos durante a investigação do caso são de fato, coisas bastante chocantes e perturbadoras. Onde os atores conseguiram absorver muito bem e transmitir de uma forma tão convincente, que isso revolta o expectador. Você de fato “compra aquela briga”, e não entende o por que!

A atuação de Mark Ruffalo (Michal Rezendes) é algo que te convence – sobretudo para os que assistiram a premiação, e puderam ver o verdadeiro Mike Rezendes. Rufallo conseguiu encarnar tão bem o jornalista, que é quase irreconhecível para aqueles que se lembram dele como Dr. Bruce Banner / Hulk em “Os Vingadores”.
Michael Keaton (Walter “Robby” Robinson) é aquele tipo de cara que está cada vez mais envolvido em filmes de peso. Sua atuação em Birdman e agora em Spotlight é algo que realmente o coloca como um dos nomes para um futuro Oscar logo, logo.

Mas, apesar de um assunto controverso e polêmico, será que Spotlight realmente merecia ter ganhado como melhor filme da noite?

Como descrito anteriormente, Hollywood é o tipo de organização que gosta de uma boa história. E claro, como qualquer meio, é às vezes oportunista em aproveitar assuntos um tanto quanto fortes, pra instigar o interesse da grande massa.

E com Spotlight não poderia ser diferente. Isso por que o filme (ao menos, à nível Brasil) não se vende. Ele não é um filme de grande público. Você não convida sua namorada/namorado, esposa/marido, para ir ao cinema ver um filme assim, por assistir.

Mas e quando você vê em grandes veículos a palavra “polêmica”, ai tudo muda de figura.
Somos curiosos por natureza, e instigados à ir descobrir o por quê, desta nomenclatura. A condição que é imposta em algo grande, faz com que você queira investir naquilo. Claro que isso não é regra. Mas convenhamos quem não ficou curioso quando soube do que se tratava “O Código Da Vinci”, não é mesmo?!

E aqui, a regra não é exceção. Todos querem entender os “por quês”, desta que é uma sombra dentro da Igreja. Mas isso é um assunto que me privo de opiniões, pra não fugir do contexto, como dito anteriormente. A base do filme, é basicamente se sustentar em um roteiro pronto de um acontecimento local, e o fator de ser o “melhor filme” do ano, não significa que ele entrará para o Hall dos filmes imortalizados e marcantes, como foi o caso do próprio Mad Max: Estrada da Fúria, que apesar de ser o vencedor em prêmios técnicos, foi muito bem aceito pela crítica, e pelos seu fiéis fãs, mesmo após quatro décadas do longa original.

Em suma, Spotlight: Segredos Revelados, é um filme muito bom, instigativo, e que  prende o expectador, que quer ver o desfecho da coisa. Se você gosta de diálogos, uma trama bem amarrada, e um filme puramente atuado, essa é a sua praia. Mas, se analisarmos o seu merecimento da premiação do Oscar, bom, é melhor você assistir e tirar as suas conclusões.

Mas em uma noite regada à surpresas, decepções e comentários pertinentes, Spotlight ganhou os holofotes do sucesso. Resta saber, por quanto tempo.